domingo, 18 de janeiro de 2015

Yuggoth - Os Segredos do obscuro mundo habitado pelos Mi-Go



Artigo originalmente publicado em 23 de janeiro de 2011

"Yuggoth... é uma estranha e escura esfera nos limites do Sistema Solar. Lá existem poderosas cidades, imensas torres e terraços construídos com pedra negra. O sol que brilha no céu de Yuggoth não é mais brilhante do que uma estrela em nosso céu noturno, mas as coisas que vivem em Yuggoth não carecem de luz. Eles são dotados de outros sentidos e tampouco precisam de janelas em suas casas e templos. Os rios escuros como piche que fluem por baixo das cidades são cortados por pontes ciclópicas construídas por uma raça extinta e esquecida".

H.P. Lovecraft - Um Sussurro nas Trevas

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Numerosos textos dedicados ao caótico universo dos Mitos de Cthulhu, sendo o mais notório aquele contido no Necronomicon, falam a respeito do misterioso mundo de Yuggoth, de onde os mi-go teriam vindo a fim de colonizar a Terra.

Para muitos, Yuggoth é o corpo celeste trans-netuniano conhecido como Plutão. Descoberto por astrônomos em 1930, elevado a condição de nono planeta do Sistema Solar naquele mesmo ano e rebaixado em 2006 ao status de planeta anão, parte do Cinturão de Kuipert, Plutão se localiza a uma distância da Terra variável de 2,6 a 4,7 bilhões de milhas, dependendo de sua órbita.

Plutão é uma esfera de pequeno tamanho com massa composta de rocha e gelo, nas dimensões de 1/3 da Lua terrestre e apenas 1/5 de sua massa total. A órbita plutoniana é irregular e elipsóide colocando o planeta anão por vezes mais próximo do sol que seu vizinho, Netuno. Seu movimento orbital leva 248 anos terrestres para ser concluído, enquanto o dia em Plutão dura 6,39 dias terrestres.

A atmosfera de Plutão é rica em nitrogênio, metano e monóxido de carbono desprendido pelo descongelamento de calotas de gelo na sua superfície. A temperatura oscila entre -210 e -250 graus célsius. Da superfície de Plutão o sol não passa de uma pequena e brilhante esfera pouco maior que as estrelas que vemos em nosso céu noturno.

Não é de se estranhar que Lovecraft tenha inserido Plutão em sua mitologia. O autor era um entusiasta da astronomia e observador amador com conhecimento suficiente para escrever artigos sobre o tema em um jornal local. Mais do que isso, Lovecraft conheceu pessoalmente Percival Lowell, um dos astrônomos ligados às pesquisas que levaram à descoberta de Plutão. Na época em que Lovecraft fazia os rascunhos do conto "Um Sussurro nas Trevas", Plutão estava para ser descoberto, e é de se supor que Lovecraft tenha aproveitado a descoberta para incutir uma aura de credibilidade na sua fantástica estória, adicionando o planeta na narrativa.

Mas seria Yuggoth o então recém descoberto planeta Plutão?

Alguns autores dos Mitos afirmam que Yuggoth seria na realidade um planeta além dos limites de nosso sistema, uma esfera consideravelmente maior e mais importante que teria uma rotação perpendicular ao sol. Yuggoth também poderia ser o nome usado para designar dois planetas distintos; Plutão e um outro corpo celeste localizado além de nosso sistema ou quem sabe outra dimensão. Finalmente, existe a teoria de que Yuggoth seria apenas uma designação, algo como "base" que identificaria todos os planetas habitados pelos Mi-Go.

O que ninguém contesta é que Yuggoth/Plutão serve de base para os seres fungóides. Os poucos humanos que viajaram ou contemplaram o planeta (a maioria por intermédio dos Mi-Go, chegando lá, voluntariamente ou não), descreveram a existência de imensas cidades subterrâneas, construídas com rocha negra cujo principal marco são colossais torres sem janelas. Essas cidades, se estendem pelas entranhas de Plutão quilômetros abaixo da superfície. Embora habitados pelos mi-go, esses túneis não possuem características arquitetônicas condizentes com as típicas construções dessa raça, o que leva a crer que os fungos não são a primeira espécie alienígena a habitar Yuggoth. Uma espécie anterior ergueu grandes pontes sobre rios subterrâneos e ancoradouros titânicos que um dia serviram para atracar embarcações que singravam esses vastos mares internos. Pirâmides de pedra esverdeada construídas lado a lado podem ser encontradas no polo sul de Yuggoth. Os mi-go tomam cuidado para manter essa área desabitada.

A literatura esotérica atesta que alguns Grandes Antigos passaram por Yuggoth antes de serem atraídos para a Terra. Glaaki viveu por algum tempo nas câmaras alagadas e nadou através delas quando os túneis profundos eram aquecidos. Rhan-Tegoth por sua vez habitou os desertos da superfície desolada, servido por primitivos Gnoph-Khe. Tsathoggua também em algum momento vagou por Yuggoth de acordo com certos textos sagrados.

As cidades dos mi-go se multiplicam nas entranhas de Yuggoth, elas se espalham por uma extensão de quilômetros conectados por túneis e câmaras obedecendo rígidos padrões geométricos. As construções utilizam a rocha local, resina orgânica e metal alienígena importado de outros planetas ou dimensões. Grandiosas refinarias operam no coração de Yuggoth processando tok'l e outros minérios trazidos de colônias distantes, inclusive da Terra. O som dessas usinas abastecidas com fontes de energia desconhecidas, reverbera até a superfície gerando pequenas ondas sísmicas que fazem o solo tremer constantemente. Na superfície, grandes chaminés cônicas feitas de metal escuro se encarregam de expelir uma densa poeira ferruginosa, o refugo dessas refinarias. Grandes montes de poeira se misturam ao gelo escuro em uma paisagem estéril e desolada varrida por frequentes vendavais. Piscinas e tanques cheios de detritos industriais, restos de fibras, compostos químicos e matéria orgânica ocupam áreas que se assemelham a desmanches e depósito de lixo.

Não se sabe qual o propósito da ativa prospecção realizada, mas é possível que os mi-go refinem os raros minérios extraídos para a construção de máquinas e portais que permitem a eles se aventurar em outras realidades. A liga de tok'l extremamente valiosa para os fungos é essencial para o funcionamento de seu Império. O segredo de sua criação é conhecido apenas pelos fungos e protegido à todo custo. 


Mentes humanas transplantadas para Yuggoth ressaltaram a incrível tecnologia dominada pelos mi-go e o aspecto bizarro  de suas cidades labirínticas. Grandes laboratórios pentagonais são o centro nervoso das cidades e funcionam também como templos religiosos e academias onde o saber é compartilhado com todos os membros da sociedade. Os mi-go cientistas trabalham nesses laboratórios nas mais variadas atividades. As instalações médicas são de grande importância já que os mi-go dominam uma infinidade de técnicas avançadas e realizam modalidades de aprimoramento cirúrgico. Estações climatizadas adaptadas a fisiologia de diferentes raças - inclusive para seres da Terra podem ser encontradas. Embora a infame cirurgia de remoção cerebral seja a mais conhecida intervenção praticada pelos mi-go, ela está longe de ser a única.

As estruturas usadas como moradia pelos mi-go tem formato semelhantes a favos de colmeia hexagonais, construídos a partir de uma matéria prima empregando resina moldada e polímeros plásticos. Tudo é recoberto por um muco orgânico sanitário que escorre das paredes em profusão. Um odor séptico reminiscente de cânfora pode ser sentido em todo canto. As habitações são claustrofóbicas, úmidas e frias, mas dentro das especificações desejadas para sustentar os mi-go. Não há fontes luminosas, já que os fungos não possuem olhos. Alguns sinais bio-fosforescentes são usados em algumas áreas, emulando os padrões usados pelas criaturas como forma de comunicação. Os cubículos recobrem as paredes das cidades formando unidades habitacionais que abrigam milhares de indivíduos. Os operários, vivem em áreas próximas às zonas de plantios, os jardins fúngicos onde alimentos são cultivados com a ajuda de maquinário complexo.

As moradias dos mi-go são idênticas, não havendo aparente diferenciação ou extratos de sociedade. Cada indivíduo tem o seu lugar e sua função pré-definida: nasce, vive e morre dentro do nicho no qual está inserido.  

Os mi-go cultivam fungos de uma notável variedade que florescem em vastas câmaras subterrâneas. Zonas de plantio cobrem quilômetros de cavernas com imensos cogumelos de cor púrpura, grandes como uma casa. Há estruturas fungóides, inchadas pendendo de jardins suspensos. Enormes globos amarelos formados por líquens, flutuam livremente como balões de gás e cortinas de bolor esverdeado crescem como enormes teias de aranha.

Insetos alienígenas de aparência repulsiva formam nuvens que zumbem ao redor das massas esponjosas fúngicas de coloração fosforescente, enquanto vermes pálidos mergulham no chão barrento, adubando o solo com nutrientes. Mi-go operários trabalham constantemente nessas cavernas colhendo e zelando pelos seus alimentos. A visão desses jardins de fungos é tão bizarra que humanos confrontados por ela estão sujeitos a perda de sanidade. Pior, a maioria desse fungos alienígenas são extremamente tóxicos e podem ocasionar reações no organismo humano que variam desde uma leve alergia até uma infecção letal.

Todos os alimentos são processados em complexos industriais que preparam e estocam a produção que é enviada para as colônias em cilindros de tok'l. Uma vez que os mi-go se alimentam exclusivamente desse tipo de alimento e ele parece crescer unicamente em condições específicas, o cultivo constitui uma atividade essencial para a espécie. Os mi-go não carecem de água ou de outros líquidos, todo seu organismo é suprido por esses fungos.


Os portais são de extrema importância para os mi-go, pois eles ligam a base às colônias espalhadas pelo sistema solar e além. Em Yuggoth existem dezenas de portais que tornam imediata uma viagem que através do espaço levaria séculos. Os grandes portais metálicos cobertos de glifos numéricos e algorítimos indecifráveis funcionam com base em cálculos de hiper-matemática que possibilitam dobrar o espaço viajando enormes distâncias em questão de segundos.

É provável que uma base coordene o funcionamento dos portais localizados em um sistema planetário inteiro. Nesse caso Yuggoth seria a cabeça de ponte no Sistema Solar, o centro de operações para toda essa extensão espacial.

8 comentários:

  1. Muito bom este artigo. Caberia muito bem num cenário futurista, de exploração espacial, com a criação de colônias fora da Terra.

    Valeu!

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  2. Estou gostando de vir ler sempre por aqui ^^

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  3. Já vai me servir de material de pesquisa para escrever um conto com os mi-go, valeu!

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  4. E aí está o conto, INTERVENÇÃO DE YUGGOTH:

    http://insanemission.blogspot.com/2011/02/intervencao-de-yuggoth.html

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  5. Muito boa descrição, você escreve muito bem!

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  6. Cara,por onde começo ler as obras de H.P? desculpe a pergunta.

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  7. Muito bom mesmo ! Este Blog esta me acometendo de um nostalgia que não sentia a décadas.

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  8. Se chamamos Barsoom de Marte , podemos muito bem estar chamando Yuggoth de Plutão .
    Mas também podemos ter confundindo o planeta habitado pelos Mi-Go com Nibiru .

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