domingo, 23 de setembro de 2012

Cinema Tentacular - V/H/S/ - Seis estórias de terror em fitas de vídeo malditas


Dizem que quando V/H/S (que daqui em diante será escrito como VHS a fim de preservar a minha sanidade) foi apresentado pela primeira vez no prestigiado Festival de Sundance, os comentários foram que seus diretores haviam conseguido a façanha de fabricar um clássico imediato de horror.

Rumores davam conta de que pessoas na audiência passaram mal, gente desmaiou de medo e a sessão se encerrou com uma longa salva de palmas. Comentários desse tipo não são muito comuns para filmes de horror, sobretudo em um festival como Sundance. Portanto, é claro que VHS despertou enorme interesse nos fãs e entusiastas do gênero. Será que o filme é tudo isso que falaram? Será que VHS conseguiria honrar as espectativas que já o colocam no patamar de melhor filme de horror do ano?

Há alguns meses assisti o trailer e fiquei empolgado. O filme parecia tudo aquilo que falaram: uma daquelas antologias de terror formada por cinco estórias como nos bons e velhos tempos. Eu esperei ansiosamente até que fim de semana passado tive a chance de assistir VHS.

Vocês podem ler minhas impressões sem medo nessa resenha. Não vou cometer a indiscrição de colocar spoillers, portanto podem prosseguir sem receio.

Mas antes de começar a escrever o que achei, permitam-me abrir um parênteses. Desde o início, VHS esteve envolto em uma aura de antecipação. Muita gente falando do filme e criando um burburinho que sinceramente - agora que assisti o filme - não sei se é justificável.  Ouvi falar de gente literalmente vomitando as tripas em plena sala de cinema e de pessoas desmaiando e sendo carregadas às pressas para receber socorro. Eu não sei ao certo se dá para levar a sério esses boatos.

Em quantos filmes de horror vocês já ouviram falar de gente vomitando ou desmaiando nos últimos tempos? O Exorcista, lá pelo início da década de 70, alegadamente provocou esse tipo de comoção, mas é preciso lembrar que aquele filme foi um dos primeiros "filmes sérios" de horror e que ele atraiu um público que não estava acostumado a ver esse tipo de coisa. Com certeza ele assustou meio mundo, mas eram outros tempos. A geração atual, acostumada a doses de sangue e vísceras hard-core deve achar Exorcista "divertidinho". Meu afilhado assistiu comigo quando tinha uns 10 anos (é eu sou um padrinho legal!) e achou a maior graça no vômito cor de ervilha e na cabeça girando. O que quero dizer é que, aquilo que chocava o público 30 anos atrás, hoje não é nada de mais.

De fato, para causar tanta comoção, VHS tinha de ser algo muito mais do que realmente é.

Não me entendam mal, VHS é muito bem feito e sem dúvida tem sua parcela de cenas assustadoras cheias de apreensão, mas está longe de ser uma experiência aterradora que vai marcar época. Isso me leva a supor que todo esse "oba-oba" em cima do filme não passou de uma bem engendrada e agressiva campanha de marketing. Que melhor maneira de vender a idéia de que um filme é aterrorizante do que espalhar por aí que pessoas desmaiaram de medo? Francamente, o filme não é tudo isso, portanto não esperem assistir uma experiência digna de pesadelo, capaz de deixá-lo suando frio, ainda mais se você for um veterano de filmes de horror.

VHS é dirigido por diretores que formam o que vem sendo chamado de "a nova safra do gênero horror". Joe Swanberg, Matt Bettinelli-Olpin, Ti West, Adam Wingard, Radio Silence e David Bruckner tem sido considerados como os mais promissores diretores e roteiristas dentro do horror contemporâneo. A idéia de reunir esses jovens nomes, uma espécie de "Time dos Sonhos" (ou seria dos pesadelos?), para conduzir pequenas narrativas de horror, parecia não ter como dar errado. A primeira vista, eles são um grupo bem entrosado, embora cada um tenha seu próprio estilo e trabalhe sua própria estética. Mas são os estilos diversos que acabam soando dissonantes no resultado final de VHS.

Nem todas as estórias conseguem conquistar o espectador ou manter o fôlego e como resultado alguns trechos acabam sendo excessivamente arrastados. VHS sofre com esses altos e baixos e lá pelas tantas você fica torcendo para determinada estória terminar logo para outra mais interessante começar de uma vez. Na minha opinião, o filme começa bem, cai um bocado nas estórias do meio e melhora novamente perto do final, o que corresponde a velha tática de colocar as melhores estórias no início e no final do filme. As estórias partem de premissas interessantes, mas a maneira como elas se desenvolvem e principalmente o desfecho de algumas deixa muito a desejar. Você fica com a inevitável sensação de que as coisas poderiam ser melhor aproveitadas...


Dito isso, deixa eu falar dos episódios que compõem o filme.

VHS é uma antologia formada por cinco contos de horror unidos por um seguimento central que serve como fio condutor. Essa estória central apresenta um bando de arruaceiros que gostam de passar seu tempo livre quebrando janelas, depredando casas e correndo atrás de mulheres no meio da rua com a intensão de arrancar suas roupas e filmá-las semi-nuas. Em resumo, não são caras legais.

Logo em seguida encontramos esses mesmos sujeitos seguindo para uma casa do outro lado da cidade com o objetivo de recuperar uma misteriosa fita de vídeo. Quem contratou eles ou porque, não é importante. Ao chegar no tal endereço, eles invadem a casa e encontram um velho morto na frente de uma série de aparelhos de televisão. Na estante ao lado está uma enorme pilha de fitas vhs, que o morto aparentemente estava assistindo quando bateu as botas. As fitas não tem identificação, de modo que os caras tem que assistir uma por uma para saber qual é a que estão procurando.
Cada uma dessas fitas corresponde a um segmento do filme e conta uma estória diferente. Em comum o fato de que as fitas foram gravadas por pessoas passando por situações que vão do levemente estranho, passando pelo fora do comum até o absolutamente bizarro. A forma de apresentar os episódios é bem original e feita de maneira inteligente.


Como acontece com antologias, os episódios são bem distintos, o que significa que depois de assistir todos você vai acabar passando algum tempo discutindo qual foi o melhor e qual foi o pior.

Aqui vai um resumo bem rápido do que trata cada episódio, apenas o suficiente para se ter uma idéia sobre o que são as estórias.

No primeiro, três amigos saem para uma noitada e acabam se envolvendo com duas mulheres em uma boite. Depois de encher a cara, eles acham que vão se dar bem e só então reparam que uma das garotas se comporta de uma maneira muito estranha. O resultado é assustador.

Na segunda estória - a mais fraca, um casal está em viagem de carro pelo meio-oeste dos Estados Unidos e acaba sendo vítima de um misterioso perseguidor que gosta de fazer filmagens. Algumas boas idéias com um desfecho beeeeeeem fraquinho.

A terceira fita (ou melhor, estória) é uma típica filmagem de férias onde dois caras na companhia de amigas, se embrenham numa floresta para fazer trilha. Lá pelas tantas um deles revela que o propósito da viagem era outro e as coisas ficam muito feias (e sanguinolentas). Mais uma vez, a idéia é boa, mas o desenvolvimento não empolga e estraga um roteiro potencialmente interessante com um fim muito bobinho.


A fita seguinte relata a experiência de um casal de namorados que se fala por web-cam já que ele está cursando a faculdade de medicina em outro estado. Quando a namorada começa a se queixar que a casa onde ela vive é assombrada e que coisas estranhas estão acontecendo o terror tem início. Tudo se passa através de conversas via Skype e as cenas de susto realmente conseguem pegar o espectador de surpresa causando algum suspense e desconforto.

Finalmente, o quinto segmento trata de um grupo de amigos idiotas que querem se divertir no Halloween. Esperando encontrar uma festa à fantasia eles seguem para uma vizinhança e invadem uma mansão onde deveria estar acontecendo a tal festa. O que encontram lá é algo inesperado e assustador. Na minha opinião é um bom episódio, apesar da premissa meio absurda e da conclusão forçada à beça, as situações são prá lá de sinistras e empregam efeitos simples mas muito eficientes.

Uma coisa que eu achei interessante é que existe uma explicação razoável para cada segmento ter sido filmado pelos indivíduos envolvidos na trama. Uma coisa que me irrita nos filmes em que o personagem filma os acontecimentos é que simplesmente não é realista que o cara continue operando a câmera durante situações perigosas. Na vida real, qualquer um simplesmente largaria o aparelho para sair correndo. Em VHS a explicação para que as câmeras continuarem rolando é bem razoável. Por outro lado, como cada segmento é resultado de uma filmagem caseira, feita por uma câmera de mão, a imagem acaba tremida e distorcida. Em certos momentos não dá para ver direito o que está acontecendo o que é meio irritante.


Enfim, VHS tem um potpouri bem variado de situações limítrofes. Quem gosta da combinação sustos fáceis, sangue em profusão e bizarrice pra todo lado, sem dúvida vai ficar satisfeito em encontrar tudo isso. Eu, pessoalmente, esperava bem mais e fiquei um bocado decepcionado já que minha espectativa era alta.

VHS não é um filme ruim, mas está longe de ser tudo aquilo que o excelente trailer prometia. Para assistir com amigos entre uma cerveja e outra funciona bem, mas não espere mais do que isso.

Trailer:

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5 comentários:

  1. Tive a mesma sensação quando assisti "A serbian film". Assistirei esse VHS

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  2. Tb me decepcionei com o filme, não que ele seja ruim, mas esperava algo no nível de Martyrs ou de um Cabin Fever. Porém um filme de que eu não esperava muita coisa e que foi uma grata surpresa é The Tall Man, tem uma bela trama e uma ótima direção, cheia de surpresas e reviravoltas, recomendadíssimo!

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  3. Well, achei VHS bem interessante, principalmente pela qualidade do vídeo, porque muita gente só tem falado mal disso, mas esquecem das reais intenções da equipe... Aí vem o roteiro. Pelo succubus no primeiro conto, eu diria que os outros têm lá alguma explicação lógica. Por exemplo, no último um dos meninos está fantasiado de uma figura histórica, algo relacionado com bombas. Não li tudo, porque tinha que pesquisar mais a fundo. De fato, tem momentos que é muito fraco, mas a história da Emily, achei ótima. Foi o momento mais WTF do filme e que me deixou com uma enorme curiosidade para com a explicação daquilo, se ela existir xD Ah, como é difícil pra mim resumir, o resto da minha opinião tá aqui: http://g4bs.blogspot.com.br/2012/09/vhs.html

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  4. Fora os efeitos visuais, a mim não agradou em nada como filme. Mas tirei várias ideias para partidas de Exoterroristas e Rastro de Cthulhu.

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  5. Primeiramente, quero elogiar sua resenha, pois está muito boa mesmo. Fiquei com as mesmas impressões e preciso confessar que fiquei extremamanente desapontado, achando que perdi quase duas horas para ver uma bela porcaria. Em alguns momentos o filme passa a impressão de que eles pretendiam fazer um filme pornô. O filme é tão ruim, que a história final, a melhorzinha para ter uns sustos, quem está assistindo fica com tando tédio, que nem susto e medo dá mais. Fora a falta de explicação de como mas fitas foram parar naquela casa, Sendo que, aparentemente, todos morreram após as filmagens. Realmente um LIXO!

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