domingo, 17 de fevereiro de 2013

Pavor de Insetos 2 - O assustador Culto da Barata


Dando sequência a série Pavor de Insetos.

O Culto da Barata


"Eles o fizeram se aproximar do altar de pedra tosco e mal engendrado. Eram vagabundos, mendigos, pessoas que você vê mas prefere não olhar nos olhos. Aqui no entanto, era impossível não olhar para eles. Aquele era seu lugar de oração. Um dos vagabundos, um homem de aspecto rude, barba selvagem e rosto cheio de pústulas, trajava uma espécie de capa. A vestimenta tinha um brilho oleoso, e só quando ele chegou mais perto percebeu que era feito de centenas, milhares de asas de baratas. Não houve tempo de racionalizar essa informação. Os mendigos se reuniram diante do homem em uma fila. Imbuído de autoridade sacerdotal ele apanhou um tipo de cálice sobre o altar e começou a distribuir para seu rebanho a "hóstia consagrada". Quem a recebia a colocava inteira na boca. Ele notou então que o que era, e uma erupção de vômito escalou pela sua garganta. A comunhão era feita com enormes baratas vivas, engolidas com extrema reverência".


Organização:

Esse pavoroso culto se originou entre membros do degenerado povo Tcho-Tcho que migraram para o novo-mundo no final do século XIX. 

Seguidores das entidades do Mythos, eles acabaram entrando em contato, ou foram contatados, pela entidade conhecida como a Praga Rastejante. Os Tcho-tcho imediatamente identificaram a criatura como sendo uma Cria da deusa Shub-Niggurath. Jurando lealdade a ela, converteram-se na sua congregação profana. O Culto da Barata jamais teve uma organização central, seus membros são vagabundos, mendigos e párias que vagam pelas ruas de grandes metrópoles. Ainda existem tcho-tcho entre eles, mas atualmente há todo tipo de gente formando a base de seguidores. Alguns possuem trabalhos temporários, mas todos vivem nas ruas, vagando de cidade em cidade acompanhando a onda migratória da Praga Rastejante. O Culto procura se estabelecer em locais subterrâneos: galerias abandonadas de esgoto, túneis de metrô desativados ou porões de prédios condenados onde permanece por no máximo um ano. Eles chamam esses refúgios de ootecas, em uma alusão aos ninhos de baratas.

O chefe do culto, estabelece um elo psíquico com a Praga Rastejante através do qual recebe as ordens para serem transmitidas aos demais. É assim que ele sabe quando uma ooteca deve ser abandonada e onde uma nova deve surgir. O padrão migratório acompanha a mudança das estações, favorecendo sempre os locais mais quentes. Ao chefe do culto cabe ainda compartilhar os ensinamentos, iniciar novos membros e conduzir os ritos de sacrifício essenciais para o funcionamento do bando. Normalmente o líder possui sangue tcho-tcho correndo em suas veias, mas essa herança está tão diluída que não se percebe mais os traços físicos que identificam os membros dessa sub-raça.

Os cultistas adoram insetos, sobretudo a adaptabilidade que essas criaturas possuem. Eles acreditam que insetos são capazes de sobreviver em quaisquer condições e para assimilar essas capacidades, os consomem vivos durante seus rituais. A ideia é que o consumo os une de maneira espiritual. As cerimônias compreendem uma série de intrincados ritos e orações realizadas nas ootecas. Membros do culto tendem a praticar sacrifícios, escarificações e atos de canibalismo. Muitos deles possuem horríveis tatuagens ritualísticas apresentando desenhos de insetos na pele. 

Por vezes eles sequestram pessoas na superfície e as arrastam para os ninhos e seus rituais tenebrosos. As condições insalubres desses esconderijos é foco para a proliferação de sujeira e inúmeras doenças, o que reflete a aparência repulsiva de muitos dos seus membros. Os covis subterrâneos ocultam altares profanos, murais grotescos e cadáveres ressecados. Hordas de imensos insetos infestam esses locais abjetos, como se fossem atraídos pela presença do culto.

Os membros do culto enxergam muito bem na escuridão, possuem uma capacidade inata para se guiar pelos túneis e nas áreas perigosas das grandes cidades. Sua maior vantagem talvez seja a habilidade de se manter "invisíveis" para as população.

O líder do Culto da Barata, sempre em contato com a Praga Rastejante.
Distribuição: O Culto surgiu na América do Norte, provavelmente na metade do século XIX quando os grandes centros urbanos começaram a atrair uma população cada vez maior de imigrantes vindos de todas as partes do mundo. É possível que a Nova York de meados de 1850 tenha sido o local onde os tcho-tcho entraram em contato com a Praga Rastejante pela primeira vez, evento seminal para a formação do Culto. Um verdadeiro caldeirão multi-cultural, Nova York oferecia amplas possibilidades para o desenvolvimento do culto em seu submundo e inúmeros esconderijos.

As necessidades da Praga Rastejante, ditam o deslocamento do Culto e de tempos em tempos eles abandonam voluntariamente seus ninhos favorecendo lugares mais quentes e protegidos. O Culto da Barata escolhe se fixar em grandes metrópoles urbanas onde sua presença passa desapercebida, ao menos por algum tempo - para todos efeitos eles não passam de vagabundos. Além de Nova York, as cidades de Los Angeles, Nova Orleans, Cidade do México, Bogotá, Lima e São Paulo possuem células do culto com número significativo de membros (pelo menos 50 indivíduos).

Gancho: Um dos ganchos mais eficientes para inserir a ameaça do Culto da Barata em uma crônica é estabelecer o dano causado pela sua permanência em um determinada lugar. 

Talvez os investigadores sejam assistentes sociais, religiosos caridosos ou apenas bons cidadãos que estranham o misterioso desaparecimento de mendigos em uma casa de misericórdia ou albergue onde eles trabalham. Há rumores e medo no ar, mas não será nada fácil tirar informações de pessoas arredias que suspeitam de qualquer um, mesmo aqueles que querem ajudá-las. 

Quem sabe, um grupo formado por detetives de policia ou jornalistas em busca de uma boa estória, ouçam boatos a respeito de um bando de maníacos que tem sequestrado pessoas em becos escuros ou plataformas de metrô desertas. As primeiras vítimas não chamaram a atenção, até que uma pessoa respeitosa acaba desaparecendo, finalmente atraindo a atenção das autoridades e da mídia.   

É possível ainda que o grupo tenha um contato no submundo, o velho Sam, um vagabundo (hobo) que age como informante revelando acontecimentos estranhos nas ruas. Esse sujeito, no passado um investigador que levou rasteiras da vida e perdeu tudo, simplesmente desaparece depois de comentar que "coisas estranhas parecem estar acontecendo". O grupo em busca de pistas começa a seguir seus passos e descobre que Sam foi apenas um dos pobre coitados carregado para os subterrâneos da cidade.

Um outro enfoque para uma aventura pode envolver um grupo de investigadores que suspeita das atividades do culto ainda que não saiba exatamente sua natureza. O Culto da Barata surge em uma determinada cidade a cada 16 anos, e durante alguns meses pessoas desaparecem sem deixar vestígios. Os investigadores podem ser pessoas que descobriram esse ciclo e que esperam interromper esse horror sazonal.  

O Culto da Barata é um ótimo inimigo para um cenário one-shot ou para uma curta série de cenários encadeados, focados no lado mais sórdido de uma Grande Metrópole. Qualquer época clássica oferece opções para a inserção desse culto, embora aventuras nos dias atuais pareçam especialmente adequadas. Nada impede entretanto que o Culto da Barata ataque na Nova York da virada do século ou durante os anos mais negros da Grande Depressão.

Ações: O Culto da Barata existe com o único propósito de servir a Praga Rastejante. Eles agem como fanáticos, cumprindo as ordens de seu líder que mantém um elo telepático com a aberração por eles venerada. Os cultistas sabem muito bem que erros são punidos com severidade. Falhar em obter uma vítima, por exemplo, pode fazer com que eles próprios se tornem o sacrifício. 

O Líder do Culto, raramente deixa o ninho/esconderijo usado pelo bando. Ele prefere enviar homens de confiança para cumprir as missões. Esses "cultistas de elite" são indivíduos absolutamente fanáticos, dispostos a morrer se for preciso. Muitos deles recebem "bençãos do culto", feitiços que aumentam suas habilidades e que os tornam ainda mais perigosos. 

O Culto da Barata mantém observadores na superfície, estes escolhem os alvos e alertam o culto quando estranhos suspeitam de suas atividades. Se um investigador começar a fazer muitas perguntas a população de rua, eles saberão quase que de imediato. Valendo-se de intimidação, os investigadores poderão ser ameaçados nas ruas ou descobrir suas casas repentinamente infestadas por insetos. Se essa pressão inicial falhar, o grupo pode escalar a violência dos atentados e até sequestrar um ou mais investigadores. Aqueles arrastados para uma ooteca dificilmente sobreviverá incólume à experiência (sem mencionar o custo de sanidade).

3 comentários:

  1. Muito boa aventura (ou cenário, como gosta de chamar rs)
    Vejo seu blog a algum tempo, parabéns.
    Gosto de Lovecraft mas ainda não conheço muito bem toda sua antologia, poderia me dizer em que contos eu encontro referências a esse "Praga rastejante"?

    Flw! e mais uma vez parabéns!

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  2. Opa! Falha minha, vc explica em outro post rs
    Foi mal =/

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  3. Muuuuito boa a ideia.
    Fiquei imaginando narrar isso usando o sistema do Call of Cthulhu D20 do Monte Cook na era moderna. (que, aliás, nunca vi você citando no blog).

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