quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ouçam o Chamado IV - Entrevista com Walter Pax ilustrador de Chamado de Cthulhu



Uma das grandes novidades da edição brasileira de Chamado de Cthulhu que se encontra em Financiamento Coletivo é o fato do livro ter um estilo próprio que se difere da edição que o originou. Ainda que muitos desenhos do livro original estejam presentes, há muitas novidades no que diz respeito a arte e diagramação.

O pessoal da Terra Incógnita já revelou que a parte interna do livro será bastante diferente, remetendo a um livro de notas (scrapbook) onde informações importantes sobre uma investigação em curso seriam anotadas. Uma excelente sacada! 

Quanto as novidades na arte, estamos em boas mãos, a tarefa insana (!!!) recaiu sobre os ombros do gaúcho Walter Pax que nessa entrevista exclusiva para o Mundo Tentacular responde algumas questões sobre como foi dar uma face aos horrores do Mythos de Cthulhu.  




1 - Como foi feito o convite para você trabalhar no projeto da adaptação brasileira do livro Call of Cthulhu? 

O convite partiu do Kairam Hamdan, um dos editores da TERRA INCÓGNITA. Depois de dar uma olhada nas páginas de um projeto meu em homenagem ao H.P. Lovecraft, ele me perguntou se eu gostaria de ilustrar a versão nacional do CHAMADO DE CTHULHU

Grande honra ter sido convidado pra esse projeto.Os Grandes Anciões me estenderam seus tentáculos...



2 - Você já conhecia alguma coisa a respeito do universo criado por H.P. Lovecraft e sobre o Mythos de Cthulhu? Se sim: Quais os seus contos favoritos? Se você fosse convidado para ilustrar um conto de Lovecraft e pudesse escolher qualquer um, qual seria e porque? À propósito, você já jogou o RPG Chamado de Cthulhu? Se sim: O que achou do jogo?

Sketch para o Fungo de Yuggoth
Sou fã da obra de Lovecraft desde minha adolescência, quando li pela primeira vez  SONHOS NA CASA DA BRUXA e NAS MONTANHAS DA LOUCURA, logo seguidos daquela que considero a maior história de horror de todos os tempos: O CASO DE CHARLES DEXTER WARD. Desde então, todo meu trabalho tem sido permeado pelas “criaturas inomináveis” de Lovecraft e seu mundo sombrio.

Penso  que, se tivesse de escolher um conto pra ilustrar, seria NAS MONTANHAS DA LOUCURA. Acho que muitos elementos que definem o estilo de Lovecraft estão nesse texto, além de ter influenciado outra referência importantíssima na minha formação: o filme O ENIGMA DE OUTRO MUNDO, de John Carpenter. Passei minha adolescência inteira desenhando criaturas gosmentas que saiam do gelo...

Sempre fui fascinado pelas ilustrações fantásticas nos livros de RPG, mas tenho de confessar que nunca  joguei. Eu iria ficar babando nos desenhos e me perderia completamente...shame on me.


3 - O livro original americano (no caso estou me referindo a Sexta Edição) conta com algumas excelentes ilustrações, outras nem tanto. Você se espelhou em algum conceito do livro original ou noção norteadora para o projeto? 

Confesso que não me baseei no livro original, pois a idéia do pessoal da TERRA INCÓGNITA era dar uma identidade própria pra adaptação feita aqui no Brasil, então partimos diretamente dos conceitos traduzidos do livro original.

Claro que algum trabalho de pesquisa foi necessário pra aproximar ao máximo as referências e personagens já conhecidos pelo público do jogo e pelos fãs de Lovecraft. Também foi ótimo conhecer a versão de outros artistas para as mesmas criaturas que eu iria desenhar...



O sketch do Povo Serpente
4 - O pessoal da Editora Terra Incógnita participou de alguma maneira do processo criativo para a arte? Qual o grau de liberdade que você teve no projeto?  

Os caras me fornecem todas as descrições das criaturas e, depois de analisarem meus layouts da versão de cada uma, sugerem as alterações finais, se existir necessidade, e só então passo à finalização das ilustrações. Eles tem mantido as correntes razoavelmente frouxas ...


5 - As criaturas que figuram no Universo de Lovecraft em geral são tratadas como "impensáveis", "indescritíveis", "inimagináveis"... suponho que não deve ter sido tarefa fácil criar a imagem de algumas delas. Em algum momento você se pegou pensando "como é que eu vou desenhar essa coisa"? 

 O desafio de representar as criaturas “indescritíveis” do Lovecraft, sempre me fascinou. Para mim, é como um passeio num parque de diversões assombrado: divertido e assustador! Eu penso “como é que eu vou desenhar essa coisa ?” o tempo inteiro... e não paro de achar isso o máximo!


6 - Quantas ilustrações você apresentou para o livro "Chamado de Cthulhu"? Qual foi a que deu mais trabalho e qual foi aquela que você parou, olhou e disse: "Uau! Essa ficou realmente legal!"

Ainda estamos no processo de criação das ilustrações do livro. Algumas já estão prontas mas, temos muito trabalho pela frente. O processo já está bem acelerado e devo dizer que fiz vários desenhos que me deixaram bem orgulhoso, mas não sei dizer se há algum favorito. Estou curtindo muito cada um deles...


Abdul Al-Hazred e o blasfemo Necronomicon

7 - Fale a respeito da capa de "Chamado de Cthulhu". Como foi o processo de criação da capa em aquarela? No que você se inspirou para compor essa imagem? 


Antes de me tornar fã do Lovecraft, eu era um fanático pelas aventuras do Conan, o Bárbaro, desenhadas pelo mestre John Buscema. Muitas das cenas mais atrozes de terror Lovecraftiano que povoam a minha mente, vem dos desenhos do cara. Quis evocar a atmosfera das grandes aventuras do Conan pra essa ilustração de capa, com umas cores ao estilo Frank Frazetta, outro artista do qual sou grande admirador. 

No  processo, as referências se misturam e o resultado acaba ficando mais orgânico, bem diferente do que eu havia planejado inicialmente...mas eu acho ótimo!



8 - Uma das recompensas do Financiamento Coletivo é o livro "A Arte de Chamado de Cthulhu". O que você pode nos dizer a  respeito desse livro? Ele vai trazer imagens que não chegaram a entrar no Chamado de Cthulhu? 

O livro vai trazer ilustrações inéditas sim. Vários sketches à lápis e alguns dos desenhos de produção que fiz durante o processo de composição do CHAMADO. Eu estava muito afim de fazer um making of do projeto e os caras da editora  toparam  oferecer o livro pra custear o financiamento. Imagina se eu não estou feliz...


9 - Onde podemos ver um pouco mais do trabalho de Walter Pax? Quais são suas principais inspirações e os artistas que você admira? Você usou algum deles como referência para esse projeto?

Cthulhu
Nos últimos anos , publiquei alguns trabalhos bem legais que me deram uma boa visibilidade no meio editorial. Ilustrei A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA, pela LEYA/BARBA NEGRA ,LEONARDINHO-MEMÓRIAS DO PRIMEIRO MALANDRO BRASILEIRO, pela editora SARAIVA, e fui convidado a participar das antologias IRMÃOS GRIMM EM QUADRINHOS pela editora DESIDERATA e 24 SEVEN-Vol2, da editora americana IMAGE (que concorreu ao Prêmio Eisner como melhor antologia). Ainda criei juntamente com os amigos João “Azeitona” Vieira e Mateus Santolouco, a trilogia ZINE SUPREME, com quadrinhos autorais do trio, que rendeu um bom destaque nas ultimas convenções internacionais de quadrinhos aqui no Brasil, e nos levou a concorrer ao troféu HQMIX (não levamos, mas foi ótimo ter participado).

Bom, quanto aos artistas que me inspiram, além do  Buscema (adoro esse nome!) e  Frazetta, curto muito o trabalho do H.R.Giger, que tem um jeito inacreditável de retratar os pesadelos do Lovecraft. Tem os demônios do Gustave Doré. Os desenhos do Dr.Seuss, o traço sofisticado do Philippe Druillet. Os experimentalismos do Breccia. O virtuosismo do Wrightson... um sem número de gente boa,que sempre influenciou e inspirou o meu traço pra ele ser como é hoje. Devo muito da inspiração do meu trabalho à todos esses mestres do desenho. Espero prestar um tributo apropriado nas páginas de CALL OF CHTULHU (aí vem a música do Tenacious D bater na minha mente..."It is just a tribute,you gotta believe me...”).

Ah...sempre que cito os artistas que admiro, esqueço de mencionar um monte de gente muito boa daqui do Brasil, que também me inspira muito. Gosto do trabalho do Rafael Sica, Mateus Santolouco (Teenage Mutant Ninja Turtles), Danilo Beyruth e seu Necronauta, os caras da revista SAMBA, Rodrigo Rosa e seu traço clássico, João Ruas (maldito!), Davi Calil (mestre da aquarela), Vitor e Lu Cafaggi...enfim,uma penca de gente que também tem me influenciado muito, profissional e criativamente.

Os meus desenhos  podem ser vistos no blog maquinafantasma.wordpress.com no meu portfólio Deviantart, que é walterpax.daportfolio.com e na minha página no Facebook.

Deem uma olhada lá. Tem umas coisas que eu gosto bastante e que dão uma geral no meu trabalho, para a galera que não conhece minha arte ir se familiarizando.


10 - Uma última e importante pergunta: Você sabe que alguns desses desenhos são imagens de entidades cujo mero vislumbre causam insanidade. Você não se sente nem um pouco culpado em desenhar coisas que são matéria prima para alimentar nossos pesadelos? 

Culpado, eu? Eu sou somente o mensageiro...abro o portão e convido a entrar. Só que tem uma placa onde tá escrito :

“Antes de mim não foram coisas criadas
  Senão eternas,e eu eterna duro.
  Deixai toda  esperança vós que entrais.”

Bem vindos!

W.Pax

A entrevista foi feita através de perguntas enviadas. Obrigado ao Walter Pax pela gentileza de ter nos atendido.

3 comentários:

  1. Ótima entrevista!!! Mais do que ansioso pra ter esse tomo em mãos!!! Bom trabalho esse do Walter Pax (e um ótimo nome pra um investigador tb)! Sucesso a todos!!!

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  2. Completíssima entrevista! O trabalho dele é fenomenal, pelas imagens divulgadas tenho certeza que o trabalho de arte da versão brasileira de Call of Cthulhu superará o original!

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  3. Grande Pax, vai lá e assombra essa galera amigão

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