quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Os Crimes de Farmer John's - A lenda macabra do açougueiro de Tuscan


Localizado na pequena cidade de Tuscan, no estado do Arizona, o Frigorífico Farmer John’s tem sido o material de pesadelos e para estórias de fantasmas desde os anos sessenta.  

Hoje, o lugar não é mais do que um velho depósito dilapidado, com paredes descascadas, fachada rachada e janelas com vidros quebrados. Ele não chama a atenção de ninguém, a não ser dos entusiastas de lendas urbanas e artistas de rua que grafitaram toda sua frente. As portas e janelas foram lacradas com tábuas, o acesso é proibido e há várias placas avisando que o lugar está semi-condenado e que invasores serão processados com todo o rigor da lei. De fato, ninguém entra no lugar há alguns anos. Por algum tempo o prédio esteve à venda como parte de um plano de revitalizar a área, mas ninguém quis comprar o antigo abatedouro apesar do preço irrisório. Alguns podem dizer que a área possui uma energia negativa e que não é um bom lugar para trabalhar, viver ou mesmo visitar. 

Talvez estejam certos...

Sabe-se que o Abatedouro e Frigorífico de Farmer´s John fornecia carne para os churrascos de final de semana de todos habitantes de Tuscany e arredores. Bastava ir até lá, fazer o pedido e apanhar a encomenda de carne fresca no final da tarde. O próprio Fazendeiro John atendia a clientela com um sorriso no rosto, apesar do cutelo na mão e o avental sujo de sangue. Mas ei, nada de estranho, já que estamos falando de um abatedouro.

As coisas começaram a ficar realmente estranhas em meados de 1964.

O departamento de polícia local recebeu uma denúncia anônima de que duas crianças desaparecidas poderiam estar sendo mantida prisioneiras no porão do abatedouro. A babá, senhorita Stiles, havia saído para passear com as crianças, Sarah e Nelson Warren, de 5 e 7 anos. Enquanto a babá se descuidou por um instante, as crianças sumiram. A polícia e os moradores de Tuscany se juntaram no esforço coletivo de descobrir o paradeiro das crianças mas nada foi encontrado. Dias se passaram, até que veio a tal denúcia feita em uma linha telefônica.

A essa altura, a polícia estava disposta a seguir qualquer pista, e uma viatura foi enviada para o abatedouro. Ao chegar ao lugar, Farmer John - que atendia pelo nome de John Orvile, disse que a denúncia não passava de uma brincadeira de péssimo gosto. Com um sorriso no rosto, ele dispensou os policiais que saíram logo em seguida sem revistar o local - afinal, todos que gostam de um bom bife, ficam felizes de não ver de onde ele vem.

Mais uma semana passou e nada dos pequeninos.

Eventualmente uma nova mensagem anônima chegou a polícia. Dessa vez em uma carta e num tom mais direto e contundente: "Farmer John está matando e vendendo a carne de pessoas em seu abatedouro".

A acusação parecia tão absurda e ridícula que a polícia não levou muito à sério. Um dos policiais entretanto, comentou mais tarde que a ausência de pistas fazia com que qualquer indício tivesse de ser examinado, por mais absurdo que parecesse. O detetive fez uma diligência até o abatedouro, pediu para entrar e revistar o local, mas um dos atendentes explicou que Father John não permitia que ninguém fosse até o porão, onde ficava a área de estocagem e empacotamento de carne. Por intuição, o policial achou a forma como o funcionário falou estranha, e pediu a um juiz local um mandato. De posse do documento oficial, ele conseguiu acesso ao interior da fábrica.

O próprio Sr. John Orvile recebeu os policiais com o habitual sorriso nos lábios. Mas o sorriso começou a sumir quando os policiais encontraram no porão, um aposento secreto atrás de alguns aparelhos de freezer desligados. Eram celas... ao menos cinco pequenos cubículos onde o açougueiro de Tuscany mantinha algumas vítimas, como uma forma de preparação para o abate. As celas ainda tinham correntes, cadeados e pequenas janelas de ventilação através das quais era possível passar água e comida aos prisioneiros. Não havia ninguém nas celas, mas estava claro que elas haviam "hospedado" pessoas recentemente. Father John, já não sorria mais, quando os policiais passaram a notícia e pediram que o departamento mandasse reforços para revistar o restante do complexo.

Buscas extensivas encontraram evidências terríveis na sala de processamento de carne. Testes utilizando luminol (um líquido que reage com as partículas de ferro no sangue) apuraram a presença de sangue humano em algumas ferramentas de corte: facas e machados. Uma busca sistemática descobriu restos humanos nas hélices de moedores e nas máquinas de prensagem de linguiça. A prova definitiva foi encontrada na sala da caldeira onde foi achado um sapato de criança, mais tarde reconhecido como pertencente a Nelson Warren. Alguns policiais, ficaram tão enojados com a descoberta que passaram mal, sobretudo porque duas semanas antes, eles haviam realizado o tradicional churrasco do Departamento de Polícia. A carne obviamente foi comprada no açougue de Farmer John.

Parecia bem claro o que havia acontecido. As crianças teriam sido mortas pelo maníaco, transformadas em alimento e tudo que restara fora destruído na caldeira. É claro, a essa altura, os bons moradores de Tuscan já estavam limpando seus refrigeradores e devolvendo os bifes comprados no açougue como evidência. Testes de laboratório confirmaram aquilo que todos já desconfiavam (e temiam): Farmer John vendia mais do que carne de gado e porco aos seus clientes.

O mais terrível é que embora os exames da época fossem inconclusivos, muito se comentou a respeito da procedência dessa carne. O material colhido, embora humano, não provinha das crianças Warren. Sua origem era desconhecida. As crianças jamais foram encontradas, nenhum sinal delas.

John Orville não chegou a ser preso ou processado. Ele cometeu suicídio na mesma sala de caldeira onde supostamente havia se livrado das provas de seu crime medonho. Ele não deixou uma carta de despedida, mas havia um pedaço de papel preso em sua camisa onde estava escrito "Eu amava as crianças. Sinto muito". Nunca se soube ao certo quantas pessoas foram mortas na fábrica, mas após essa descoberta macabra, a polícia começou a encarar o grande número de desaparecidos nos arredores de Tuscany com outros olhos. Não é possível dizer quantas pessoas foram vítimas de Farmer John, mas levando em consideração que o abatedouro era um negócio de família, e que ele já trabalhava ali há 28 anos, o número pode ser considerável.

As diligências policiais resultaram na descoberta de mais alguns itens sinistros na fábrica, entre os quais farta literatura sobre campos de extermínio nazistas. Orville havia servido na Europa e se vangloriava de ter participado da libertação do Campo de Belsen. Os registros militares diziam que ele havia se mostrado enojado com a descoberta dos campos da morte e que após o ocorrido sofria frequentes pesadelos. Isso não o impediu de dar baixa e ir trabalhar no abatedouro que estava na família há gerações. Além dos livros e desenhos com imagens grotescas, foi achada uma suspeita coleção de objetos variados mantido em uma caixa no fundo de um armário. A coleção incluía peças de vestuário, relógios baratos, anéis e outros objetos pessoais que não pareciam pertencer a ele. Especula-se que estes eram troféus de vítimas coletadas pelo acougueiro maníaco.

John Orville era um homem quieto e tímido. Seus empregados não tinham nenhuma reclamação dele, na verdade, o tinham em alta conta e muitos não conseguiam acreditar que aquele homem corpulento, sempre sorridente, podia ser um monstro capaz de atos tão abomináveis. A esposa o havia abandonado pouco depois dele retornar da Guerra e ninguém sabia do seu paradeiro. Considerado um pilar da comunidade de Tuscan ninguém desconfiava de suas atividades, muito embora alguns tenham recordado que Orville costumava andar na van do açougue pela cidade oferecendo abrigo e emprego a pessoas que pareciam precisar de ajuda. Ninguém jamais soube quem fez a denúncia original e a posterior que levou a polícia a prender Orville. A voz era de uma mulher e a letra analisada parecia tipicamente feminina. 

Em 1966, o prédio do açougue, que estava fechado desde então, pegou fogo no que foi considerado uma acidente com a fiação elétrica. Dez anos mais tarde, uma fábrica de materiais plásticos abriu as portas no mesmo local. Funcionários, no entanto, se sentiam incomodados com uma certa aura desagradável no local. Alguns se queixavam de um persistente odor de cobre, algo reminiscente de sangue fresco, que podia ser sentido no ambiente, não importando quanto tempo tivesse se passado desde o fechamento do abatedouro. O fedor era mais forte, segundo consta, no mês de outubro, coincidentemente o mês do desaparecimento das crianças Warren.

Em abril de 1977, um vigia noturno que trabalhava na fábrica telefonou para a polícia afirmando que alguém havia invadido o prédio; uma menina e um menino estavam correndo pelo lugar. O guarda era de fora de Tuscan e afirmou mais tarde desconhecer o passado do prédio. Ele pediu demissão quando contaram a ele a estória. As coisas pioraram quando rumores entre os funcionários da fábrica começaram a circular pela cidade. Alguns empregados teriam visto um homem adulto vestindo um avental sujo de sangue perseguindo crianças, armado com facas. Dizem que o fantasma das crianças podem ser vistos repetidamente na noite de 31 de outubro, bem como duas sombras ameaçadoras que parecem assombrar a sala da caldeira.

Ao longo dos anos, a lenda, é claro foi ganhando outras facetas e contornos cada vez mais macabros. Um suposto diário pertencente a John Orville teria sido encontrado sob as tábuas do assoalho em uma sala, e neste ele contabilizava mais de duzentas vítimas. Um colar de ossos humanos também teria sido achado na fatídica sala da caldeira, mas provavelmente nenhum desses rumores é verdadeiro. 

A fábrica foi fechada em 1988 e os negócios que ali se estabeleceram posteriormente não deram muito certo. Em média, fechavam depois de alguns poucos anos. Eventualmente o prédio virou um depósito até ser arrendado pela prefeitura e condenado. Há petições públicas pedindo a demolição do lugar que para muitos constitui uma memória desagradável. Em 2009, o lugar chegou a ser alugado por uma empresa chamada Tuscan Screams (Gritos de Tuscan) que oferecia visitas guiadas ao "terrível lugar do massacre de Farmer John". Nunca se deve subestimar o gosto das pessoas por diversão duvidosa.

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