domingo, 31 de janeiro de 2016

Profecias de Baba Vanga - As Assustadoras Previsões de uma Vidente Cega


Ela já foi chamada de Nostradamus dos Balcãs pois segundo alguns, suas previsões tem 85% de acurácia. Entre muitos acontecimentos importantes, ela teria previsto o ataque terrorista da Al Qaeda às Torres Gêmeas de Nova York em 11 de setembro.

A previsão teria sido a seguinte:

"Horror, horror! Os irmãos americanos vão cair depois de serem atacados pelos pássaros de aço. Não apenas um, mas dois se chocando contra eles. E eles irão ruir. Os lobos uivarão sob um arbusto (uma alusão a Bush - o presidente americano?), pedindo vingança. Acontecerá em Setembro e para sempre será lembrado. Por causa disso, guerras serão travadas e sangue inocentes será derramado".

A previsão teria sido feita em 1989, muitos anos antes do maior ataque terrorista da história dos Estados Unidos mudar o mundo. A visão foi anotada em um caderno.

Verdade ou mentira? Outra previsão bem sucedida?

"Será uma tragédia que vai chocar  mundo. Morte na água, ondas imensas varrendo o oriente. Muitas, muitas mortes... as pessoas vão buscar lugares altos para se proteger, mas as ondas irão arrastar tudo em seu caminho. Destruição sem precedente em cidades e no interior. Será no extremo oriente, mas vai se espalhar por muitos países".

Novamente, previsto em 1992 e devidamente anotado em uma folha de caderno, a previsão parece se encaixar perfeitamente na Grande Tragédia do Tsunami que varreu a Ásia em dezembro de 2004.

Só para terminar, mais uma previsão que teria sido feita, dessa vez em 1995:

"O homem poderoso será diferente de todos os outros que já moraram no Palácio (Casa) Branco. Ele irá carregar grande esperança de mudanças após um período longo de incertezas e insatisfação. Muitos dirão que ele irá trazer mudanças e de fato ele o fará. O homem mais poderoso do mundo será negro e vai conquistar a confiança de todos ao seu redor".
Barack Obama na época nem sonhava em se tornar o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos o posto mais elevado da maior potência do mundo. No entanto, assim aconteceu.

Há outras previsões se referindo a acontecimentos igualmente importantes e incidentes menores. As previsões para o futuro próximo, acenam com tempos conturbados, guerras e muita instabilidade política. Haveria uma "Grande Guerra Islâmica" à caminho, cujas sementes já teriam sido plantadas e que brotariam ainda nesse ano de 2016, trazendo uma das maiores e mais terríveis crises do século. 

Devemos nos preocupar? Quem é essa vidente que se tornou uma personalidade famosa no seu país natal, a Bulgária?

A mulher que viria ser conhecida como Baba Vanga nasceu como Vangelia Pandeva Dimitrova em 31 de janeiro de 1911. Na noite em que ela veio ao mundo uma forte tempestade caiu sobre o país provocando mortes e destruição. No momento em que a menina nasceu, a tempestade cessou quase que imediatamente. A parteira acreditava que ela não sobreviveria pois nasceu muito frágil, entretanto, o bebê se recuperou e se tornou uma criança sadia. Ainda menina, ela realizava o que as pessoas na época acreditavam se tratar de legítimos milagres de cura. Aos seis anos, ela teria revivido um animal doméstico, um gato, que pertencia à família e fora morto acidentalmente. Aos oito anos, teria curado uma doença antiga que afligia sua avó e que a impedia de se locomover há mais de uma década. Aos 10 anos, a pequena Vangelia teria sido visitada por um homem rico que tendo ouvido falar de suas habilidades, levou até ela seu filho recém nascido, desenganado pelos médicos convencionais. A menina soprou no rosto do bebê e este imediatamente se recuperou. Aos doze anos, ela supostamente afastou um tornado que ameaçava destruir sua cidade natal.

Com 15 anos, ela previu que sofreria um acidente e que perderia a visão em decorrência deste. Conforme o previsto, ela sofreu um acidente grave e nunca mais foi capaz de enxergar o mundo ao seu redor. 


Baba Vanga, como passou a ser conhecida, dizia que seus poderes paranormais eram decorrentes de criaturas invisíveis para todas as outras pessoas, exceto para ela, que podia vê-los e ouvi-los claramente. Esses seres, segundo sua descrição, pareciam crianças feitas de pura luz branca. Elas voavam, flutuavam no ar, cantavam e brincavam ao seu redor. Eram seus amigos secretos quando ela era criança, mas a acompanharam ao longo de toda sua longa vida. As "crianças luminosas" tinham a capacidade de curar as pessoas, ajudar os enfermos e contar o que aconteceria no futuro distante. Eram elas, e não a pequena Vangelia, que haviam realizado todos os "milagres" testemunhados por seus pais, vizinhos e amigos. A menina não cansava de dizer que seus amigos às vezes faziam o que ela pedia, às vezes curavam as pessoas e às vezes, quando assim desejavam, contavam sobre o que estava por vir no mundo. Nem sempre ela compreendia sobre o que elas falavam, a noção de muitas daquelas coisas não faziam sentido.

Na Segunda Guerra, ela se tornou extremamente popular como fonte de informações para parentes de soldados que estavam lutando nos campos de batalha. Vangelia teria contado a uma mulher que recebera uma carta informando da morte de seu marido, que ele ainda estava vivo e que a carta havia sido um engano. A mulher acreditou na previsão e após a guerra empreendeu uma busca incessante pelo marido, descobrindo que ele havia sido feito prisioneiro em um campo russo. Ele retornou em 1950, após seis anos considerado como morto. O retorno do soldado foi previsto por Baba Vanga, que disse que ele ocorreria na primavera de 1950. Incrivelmente, foi exatamente o que aconteceu!

Anos antes, durante os dias mais brutais do Conflito, Baba Vanga previu que sua cidade natal seria bombardeada por aviões. Os habitantes, ouvindo seu alerta deixaram suas casas e se esconderam nos arredores. Na mesma noite, aviões lançaram bombas que devastaram as casas, mas ninguém foi morto. As crianças de luz também alertaram a vidente que ela deveria retirar sua família e empreender uma longa caminhada para além das fronteiras, pois o Exército Soviético se preparava para tomar a Bulgária de assalto. Aqueles que ouviram seu alerta e escaparam para a vizinha Romênia conseguiram escapar de um verdadeiro massacre empreendido pelo Exército Vermelho.


Baba Vanga contou que durante a ocupação nazista na Bulgária, homens da SS mandaram buscá-la e a embarcaram em um trem para a capital. Ela foi entrevistada por um oficial por horas: ele queria saber sobre o futuro da guerra. A vidente disse que não sabia o que aconteceria e foi devolvida à sua cidade natal. Anos depois ela revelou que na ocasião já sabia que os Aliados seriam os vitoriosos, mas que temendo a reação do oficial preferiu mentir. Como refugiada de guerra na Romênia, ela previu o fim da Guerra para 1945, a ocupação dos Soviéticos em seu país, a morte do Rei da Bulgária e uma série de outros acontecimentos.

Cega e iletrada, Baba Vanga relatava as previsões sussurradas pelas crianças de luz. Algumas dessas previsões eram anotadas pela sua irmã. Em uma previsão, ela viu a morte da mãe por tuberculose em um campo de refugiados e quando descreveu o ocorrido sua irmã a fez prometer jamais falar novamente do futuro. As pessoas temiam as capacidades de Vangelina, achavam que ela era uma espécie de bruxa ou feiticeira. Ainda na Romênia, ela foi ameaçada e salva do apedrejamento em duas ocasiões. Finalmente, ela conseguiu retornar para a Bulgária e para o pequeno vilarejo de onde nunca mais saiu.


Com o tempo, a fama de Baba Vanga se espalhou e muitas pessoas acreditavam na infalibilidade de suas previsões. Crentes viajavam muitos quilômetros para encontrá-la e ouvir o que ela tinha a dizer sobre o futuro ou para receber algum tipo de cura milagrosa.

Nem sempre os poderes dela funcionavam. Na década de 1950, algumas pessoas se esforçaram para desacreditar suas alegadas faculdades mediúnicas. Ela foi considerada uma charlatã e presa em uma cadeia por dois meses. Na ocasião ela previu a morte de Stalin, o que desagradou os comissários do partido. Depois disso, Baba Vanga teve de ser mais cuidadosa com suas previsões e falar apenas na presença de pessoas conhecidas e amigos de confiança.

Em 1960, uma sobrinha de Baba Vanga chamada Yelina começou a tomar nota de algumas das suas previsões. Elas eram escritas em um caderno guardado em segredo no colchão de uma cama para que ninguém o encontrasse. Baba Vanga também deixou de realizar curas milagrosas, embora ainda circulasse boatos a respeito de pessoas que haviam sido ajudadas pela intercessão das crianças de luz. Nas páginas amareladas do caderno de Yelina há anotações a respeito da Invasão e da influência cada vez mais forte da União Soviética na Bulgária. Constam vários nomes de pessoas que desapareceram, supostamente levadas pela polícia secreta. O nome e sobrenome de governantes eleitos ou indicados em um longo período. A data e as circunstâncias de uma severa enchente que atingiu o país em 1971 e informações a respeito de um trágico acidente de trem ocorrido em 1974. Ela também previu a vitória do búlgaro Vaselin Topolov no Torneio Internacional de xadrez.

Além dessas previsões locais, Baba Vanga previu o início da Guerra na Coréia, a Revolução na China, a Crise dos Mísseis de Cuba, a Morte de um homem importante na América (supostamente Kennedy, em  uma anotação de 1959) e uma guerra sangrenta no sudeste asiático. Há também previsões sobre a Queda da União Soviética (ainda que prevista para 1986, quatro anos antes do ocorrido), o desastre nuclear de Chernobyl e o naufrágio do submarino Kursk.

Baba Vanga morreu em 1996, tendo feito previsões até seus últimos dias de vida. Entre 1989 e 1995, várias de suas previsões foram registradas em documentos lacrados em envelopes com a  data reconhecida em cartório. Esses envelopes eram guardados em um cofre de banco com ordens para serem abertos ano a ano. Segundo os parentes mais próximos, Baba Vanga deixou cerca de 400 envelopes com previsões até o ano 2150.


É claro, nem todas as previsões se concretizaram conforme o esperado.

Embora tenha acertado a respeito da Destruição das Torres Gêmeas, ela errou ao afirmar que esse acontecimento em especial iria deflagrar a Terceira Guerra Mundial em 2010. Errou também ao dizer que a Rússia entraria em uma sangrenta guerra com a China na qual uma cidade seria completamente destruída em uma explosão com milhões de vítimas, coisa que deveria ter ocorrido em 2006. A China também sairia dessa Guerra como a maior superpotência do globo. Baba Vanga fez uma previsão em cadeia nacional que a Copa do Mundo de 1994 seria decidida entre Brasil e Bulgária e que a seleção do seu país iria se tornar campeã. Nós sabemos que a coisa não terminou assim, o Brasil venceu a Itália nos pênaltis e a Bulgária foi a quarta colocada naquele mundial, em um resultado até hoje controverso.


Recentemente, as previsões de Baba Vanga ganharam popularidade uma vez que certas encontraram eco nas manchetes de jornais. Em 1988 ela escreveu a respeito de uma Irmandade de Muçulmanos que se tornaria muito conhecida a partir de 2010. Esse grupo seria formado por homens de capuz, responsáveis por assassinatos e atos de terrorismo em vários países do mundo. Eles seriam responsáveis por uma Guerra que destruiria alguns países: o Egito, a Síria, o Líbano e a Líbia seriam os mais afetados.

As raízes da ISIS (para nós, Estado Islâmico) podem ser traçadas até o início do ano 2000, mas ele só ganhou as manchetes de jornais depois da primeira década do século XXI. Em 2010, a Primavera Árabe varreu os países citados por Baba Vanga, e embora a Guerra Civil não tenha sido declarada em todas nações citadas, cada uma delas enfrentou um período de crise e mudança política radical. Tanto o Egito quanto a Líbia tiveram seus governantes derrubados em revoltas com presença popular e de facções extremistas. A situação na Síria continua instável e existe a possibilidade da guerra atravessar fronteiras e se espalhar por outras nações do Mundo Árabe.

Baba Vanga alertou para esses acontecimentos em uma previsão escrita em 1993:

"Homens fanáticos irão lançar armas mortais sobre a Europa. Em 2016, o mundo ficará chocado pela ação de pessoas que não temem a própria morte. O continente europeu irá se tornar uma terra de morte e destruição. Lá, nada há de crescer por gerações e multidões de doentes terão de fugir em busca de asilo em outras partes do mundo".

A vidente cega foi mais além em suas terríveis previsões ao afirmar que os próximos anos serão de enorme sofrimento. "Morte em várias partes do mundo, execuções públicas e campos de concentração serão vistos novamente. Será como na Grande Guerra, mas ainda pior!"

Essa crise envolvendo a tal "Grande Guerra Islâmica" terminará por se espalhar por todo mundo e seus efeitos serão sentidos até 2043.

Ao menos, depois de todo esse sofrimento, o mundo entrará em um período de relativa tranquilidade. Ela previu a primeira viagem tripulada para Marte ocorrendo em 2028 (sendo que Baba Vanga quase acertou a data da chegada à Lua, prevista para 1971, mas por soviéticos!), a construção de uma cidade na Lua em 2041, de uma grande cidade no céu (seria uma estação orbital?) em 2055 e (pasmem!) o encontro com seres extraterrestres em 2125, ocorrendo em uma Floresta da Hungria.


Quando perguntada a respeito do fim do mundo, Baba Vanga sempre dizia que o homem estava fadado a existir para sempre. Mas segundo seus parentes próximos ela teria dito que a Terra seria destruída em 5079, ainda que a humanidade continuasse a habitar o universo. Infelizmente, nunca saberemos se essas previsões irão se concretizar...

Mas e quanto às previsões mais próximas de Baba Vanga, aquelas que estão prestes a acontecer? Muitas delas parecem vagas e incertas, enquanto outras possuem datas precisas de quando os incidentes irão ocorrer. Será que dentro em breve iremos testemunhar uma Grande Guerra baseada na religião? Um período de morte e destruição que remete às Grandes Guerras Mundiais está por vir? 

Pouco antes de sua morte em 1996, Baba Vanga disse que uma menina cega de 10 anos, vivendo na França iria herdar sua capacidade de se comunicar com as "crianças de luz". À princípio, as pessoas não iriam acreditar nela, mas por volta de 2018, ela será reconhecida, uma vez que acertaria suas predições. Talvez, ela já esteja fazendo suas projeções e nós nem sabemos...

De uma forma ou de outra, não teremos de esperar muito.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Recap de Arquivo X - "My Struggle" - episódio 1, temporada 10


Este é um Recap, é claro que ele contém SPOILERS, então esteja ciente antes de começar a ler.

Vamos começar pelo básico no que diz respeito ao primeiro episódio de Arquivo X depois de sua longa ausência de 14 anos.

Antes de qualquer coisa, eu admito! Eu estava extremamente ansioso pela estréia do primeiro episódio, ainda que pouco à vontade com esse formato de mini-série. Eu sou um daqueles fãs de longa data, que assistiram a série original inteira e que passaram várias horas discutindo e debatendo os episódios. Um daqueles que é capaz de discorrer sobre a mitologia dos Arquivos X e da natureza das Conspirações Governamentais. Arquivo X está entre as minhas séries favoritas em todos os tempos e por isso, me sinto à vontade para falar livremente e sem meias palavras à respeito dela.

 Desde o momento que o retorno de Arquivo X foi confirmado, contávamos os segundos para ele ir ao ar e saciar nossa curiosidade. Antes mesmo disso, ao longo de 14 anos, muitos de nós formulamos diferentes panoramas e criamos nossas próprias projeções, antecipando como poderia se dar o revival da série. O que teria acontecido com Mulder e Scully nesse tempo? Que caminhos suas vidas teriam tomado? Qual o destino dos Arquivos X? Quem seria o responsável por eles? Que outras conspirações teriam aflorado na última década e meia? Como elas poderiam ser frustradas?

Como fã hardcore eu estava ansioso por assistir o retorno de Mulder e Scully. Torcendo para que eles voltassem em grande estilo. Que logo de início eles esbarrassem em alguma pista deixada por algum informante misterioso, que a pista resultasse em uma série de indícios apontando para novas e empolgantes conspirações arquitetadas por pessoas poderosas. Eu ansiava para que logo os dois estivessem vasculhando depósitos abandonados, bases secretas e florestas ermas munidos de potentes lanternas iluminando a escuridão indevassável, claramente uma metáfora da verdade atravessando o desconhecido. Afinal, essa é a base de Arquivo X, é isso o que queremos ver...  


Para ser sincero, ao assistir os trailers e especiais a respeito da décima temporada, senti um certo desconforto. Não pelo fato de nossos heróis terem envelhecido. Longe disso! O ar de maturidade de Mulder e Scully, ao meu ver, apenas contribuem para cimentar a ligação entre eles e o comprometimento com sua causa. Anos se passam e eles continuam buscando a verdade, custe o que custar! Se não com a energia e vigor de antes, com a experiência e inteligência possuída pelos veteranos. O que me deixou com a pulga atrás da orelha é por que os produtores não aproveitaram a chance para reformular Arquivo X?

Minha esperança era que Arquivo X passasse por algum tipo de mudança conceitual. Quem sabe recriar o departamento a partir da necessidade pura e simples do FBI investigar casos que ninguém é capaz de resolver. Não seria muito complicado para um bom roterista recontextualizar os Arquivos X, focando em uma nova dupla ou equipe de agentes especialmente incumbidos de vasculhar a Caixa de Pandora que são esses casos.

Reparem que não estou em momento algum defendendo que Mulder e Scully fossem excluídos desse formato, muito pelo contrário! Eles estariam presentes, não como agentes, mas como Consultores experientes, Chefes de Departamento ou mesmo mentores cuja função seria guiar os recrutas em suas próprias buscas e descobertas. Ao meu ver essa seria a melhor maneira de apresentar Arquivo X a uma nova geração, agradando também aos antigos fãs. 

Ao invés disso, Chris Carter, o criador da série preferiu uma saída mais fácil... ele devolveu os Agentes Mulder e Scully ao FBI quase como se nada tivesse acontecido, como se a intempestiva saída deles no final da nona temporada tivesse sido esquecida e contemporizada. Os agentes estão de volta ao seu antigo trabalho e continuam à serviço do Bureau, investigando casos estranhos, sob a supervisão do bom e velho Diretor Assistente Skinner. Tudo como antes.


Olha, eu não sei se foi a melhor opção... é claro, eu pretendo acompanhar as novas e inéditas aventuras dos agentes, espero que eles ainda tenham muito o que mostrar, mas ao mesmo tempo me recordo que nas últimas temporadas a série havia dado sinais inequívocos de desgaste. A fórmula afinal não é à prova de falhas, e embora seja ótimo acompanhar essas novas estórias, fico preocupado com até que ponto eles vão conseguir sustentar o show depois que ele deixar de ser uma novidade e o estardalhaço da estréia for diminuindo. Perguntas e mais perguntas que só serão respondidas no futuro, quando (e se) Arquivo X for trazido de volta a grade de programação da FOX como seriado regular.

Mas toda essa longa introdução para falarmos sobre o primeiro episódio que foi ao ar nessa segunda feira, com o título "My Struggle" (algo como "Minha Luta").

O episódio tinha duas grandes responsabilidades:

1) mostrar o que é Arquivo X, quem são os personagens e qual a motivação deles para um novo público (gente que não viu ou sabe pouco sobre a série original)

e

2) Colocar os antigos fãs à par do que aconteceu nos últimos anos, desde que havíamos nos despedido de Mulder e Scully no "longínquo" ano de 2002.

"My Struggle" começa dedicando todo o seu prólogo a primeira tarefa. Nele, a inconfundível voz anasalada de Fox Mulder fornece vários detalhes sobre a série original. Não é fácil fazer um resumo completo de nove temporadas em menos de três minutos, mas o monólogo de Mulder, recheado de fotografias e imagens funciona bem e tem um efeito nostálgico. Vemos alguns momentos chave, quando Scully é escalada para se juntar a Mulder, sua abdução, as experiências genéticas que ela sofre e a busca incessante de Mulder pelo paradeiro de sua irmã. Vemos também a imagem de vilões como Eugene Tooms, os alienígenas sem face, os caçadores de recompensa e o inesquecível Canceroso.



Tudo parece promissor e eleva as espectativas até a estratosfera. O monólogo termina com Mulder perguntando em tom de dúvida se tudo que ele investigou realmente não passa de uma fraude, até que surge a imagem de um disco voador se acidentando no deserto do Novo México.

Roswell, 1947. A décima temporada começa com uma investigação envolvendo o mais emblemático caso de disco voador de todos os tempos. Acompanhamos em primeira mão um médico sendo levado até o local da queda do OVNI e o momento em que um "homem de preto" e militares fuzilam impiedosamente um alienígena que havia sobrevivido ao acidente. O cadáver é levado para uma autópsia a medida que o disco voador começa a ser desmantelado e suas peças recolhidas.


Fica claro, que esse incidente será extremamente importante ao longo dessa curta temporada, mas antes de ter mais detalhes deixamos o passado e avançamos para os dias atuais em busca do paradeiro de Mulder e Scully. Ficamos sabendo que a Dra. Sculy (linda como sempre na plenitude da maturidade) está trabalhando em um hospital, fazendo cirurgias reparadoras em crianças nascidas sem orelhas - é curioso como a imagem desfocada em segundo plano de uma das crianças lembra a face de um alienígena cinza. Apesar de seu trabalho importante, Scully vem sendo procurada pelo seu antigo chefe, o Diretor Skinner que pretende marcar uma reunião com ela e Mulder para discutir um assunto urgente.

Dana não parece muito satisfeita com a perspectiva de encontrar seu ex-parceiro - ainda é cedopara dizer como o relacionamento dos dois foi para o buraco, mas enfim ela acaba aceitando contatar Mulder. Ao que tudo indica, Mulder não mudou muito desde a última vez que o vimos. Ele não está com aquela aparência desleixada do filme "I Want to Believe", mas continua o mesmo sujeito disposto a acreditar e buscar incessantemente por acontecimentos paranormais e respostas. Ocorre que Skinner quer que Mulder se encontre com um tal Tad O´Malley, o controverso apresentador de um programa sobre conspirações governamentais. Tad seria um entusiasta do trabalho dos agentes no Arquivo X, e uma espécie de fã que acompanha a carreira de Mulder desde a publicação de um livro (???) sobre seu período no Bureau (Infelizmente, não há nenhuma informação adicional sobre que livro é esse ou seu conteúdo). Mulder acaba aceitando o convite de Tad e arrasta Scully para o tal encontro.


No encontro morno entre os dois ex-agentes, no qual eles trocam alguns cumprimentos meio sem jeito, percebemos que o fim do Arquivo X, aquilo que serviu para aproximá-los emum primeiro momento, terminou por afastá-los de uma vez por todas. Eles não são um casal, não são colegas, não são companheiros... parecem à princípio dois conhecidos que não se viam a algum tempo e que tentam colocar a conversa em dia, sem saber exatamente por onde começar. Com certeza ainda vamos saber o que houve entre eles, mas essas revelações virão gradualmente.

Nesse momento, eu faço um parenteses para falar dos dois protagonistas. Não é necessário muito tempo para perceber que David Duchovny e Gillian Anderson ainda possuem aquela química responsávelpor tornar Arquivo X um seriado tão interessante. O foco da série nunca foram apena sos casos, mas a relação dos personagens e a mística ao redor deles. Fazia tempo que nós não viamos Mulder e Scully juntos, e bastou alguns segundos para que a presença deles em cena ativasse nossa memória afetiva. E como é bom vê-los trabalhando juntos uma vez mais! Aquela faísca está lá, e foi ela a responsável pelos melhores momentos desse primeiro episódio. Ainda que o roteiro assinado por Chris Carter tenha sido um pouco engessado, sem espaço para piadas internas e referências aos antigos episódios, a parceria ainda se sustenta com folga.  

Mas vamos em frente. O tal Tad aparece com uma limosine e recolhe os dois ex-agentes mo lugar marcado para um passeio com direito a champagne e vidros à prova de balas. Ele dá mostras que é um teórico por conspiração tão engajado (e paranóico) quanto o próprio Mulder, interessado em provar o envolvimento de membros do governo em uma hiper-mega-super-ubber conspiração que segundo ele já está em curso e constitui uma ameaça global. Mais do que meramente propagar sua teoria, Tad afirma ter as provas necessárias para provar o que diz por A mais B. Mulder é claro, morde a isca, com anzol e linha. A limosine leva o grupo até uma casa afastada onde eles conhecem uma moça chamada Sveta que passou por recorrentes abduções desde a infância. Ela mostra algumas estranhas marcas pelo corpo, resultado de experiências que implantaram e extraíram de seu corpo fetos com DNA híbrido. Sveta diz que é capaz de ler mentes (embora não possa controlar essa faculdade) e afirma que seu código genético foi manipulado de tal forma que contém cadeias anômalas. Mas ao contrário do que os agentes suspeitam, Sveta afirma que não foram alienígenas que realizaram as experiências em seu corpo, mas cientistas humanos que tem acesso a tecnologia alienígena. Para provar o que diz, ela aceita passar por alguns testes laboratoriais realizados por Scully.


Enquanto Sveta segue para o hospital para fazer uma bateria de testes que comprovem suas alegações, Mulder fica na companhia de Tad ouvindo tudo o que ele tem a dizer. Para mostrar que está falando sério, Mulder concorda em visitar uma instalação secreta onde a organização de Tad - formada por cientistas, reconstruiu com base nos mesmos planos obtidos em Roswell um veículo voador super avançado. A nave (um ARV - Alien Replica Vehicle) não apenas funciona com "zero point energy" (energia limpa, gratuita que se vale de um elemento deconhecido, o composto 115), como possui um dispositivo de camuflagem de fazer inveja a klingons e romulanos juntos. A essa altura Mulder já está mais do que convencido de que Tad sabe das coisas e que tem em seu poder provas cabais de um complô para acobertar essa tecnologia roubada de uma civilização extraterrestre e oculta do público há mais de 70 anos.

Ainda abalado com as revelações, Mulder se encontra com um de seus informantes, um senhor de idade que vem lhe ajudando na última década a encaixar peças dessa mesma mega-conspiração. O sujeito não é outro senão o médico que realizou a autópsia alienígena em 1947 e que obviamente sabe de muitas informações sigilosas. Ele não queria morrer levando consigo os segredos da queda do OVNI em Roswell e por isso procurou Mulder e reacendeu sua sede pela verdade. Através de alguns flashbacks vemos o inconformismo do informante diante da ação de membros do governo que utilizam a tecnologia e os dados sobre a biologia extraterrestre em causa própria. "Roswell foi uma cortina de fumaça" ele diz antes de se despedir. Ah esses informantes de Arquivo X, NUNCA estão dispostos a contar tudo que sabem enquanto podem...

Reunido a Scully uma vez mais, Mulder revela todas as teorias de Tad e explica que a conspiração não envolve uma parceria entre alienígenas e humanos, na verdade ela foi concebida apenas por humanos, uma elite muito poderosa que influencia as decisões e na prática, comanda o mundo desde os anos 1950. Segundo ele, alienígenas foram atraídos para a Terra pelo uso de armas nucleares no final da Segunda Guerra. Esses extraterrestres estavam preocupados com o uso de armas tão poderosas e com a possibilidade de nossa raça ser destruída. Ao tomar conhecimento da existência desses emissários, membros da elite do governo e militares capturaram os alienígenas e apreenderam sua tecnologia para alimentar seus planos de dominação global. Mulder rumina a respeito de todas conspirações que pipocaram nas últimas décadas; desde manipulação de alimentos para engordar e adoecer a população, passando por testes de drogas em campos de prisioneiros sem razão aparente, aprovação de leis que permitem espionar o cidadão, coleta de dados sigilosos, escalada armamentista e fomentação de guerras e revoltas ao redor do mundo, manipulação climática, destruição do meio ambiente, repressão a meios de comunicação etc, etc... tudo estaria conectado em um único complô que redefine de uma vez por todas a mitologia central de Arquivo X e hiper-dimensiona a noção de que um único grupo está por trás de tudo.


Esse trecho é bem interessante e lembra em alguns momentos um documentário chamado Zeitgeist - com cenas reais coladas em ritmo frenético. O trecho é um pouco confuso e padece com a quantidade monstruosa de informações lançadas para o espectador. Mulder não para de falar e para assimilar todos os detalhes eu tive que assistir a cena várias vezes.  

Scully obviamente vacila em acreditar nessas teorias, ela continua a cientista racional que sempre foi. Isso não seria Arquivo X se Scully concordasse imediatamente com as maluquices endossadas por Mulder. Para embasar seu ceticismo, Scully diz que os testes em Sveta não resultaram em nada fora do convencional. A menina não tem nada de errado em seu DNA e ela se sente enganada por Tad e manipulada para acreditar em suas teorias conspiratórias. Sveta dá entrevistas em que acusa o âncora do programa de engana-la e desaparece logo em seguida.

A notícia é um tremendo banho de água fria. Mas o pior ainda está por vir! Os conspiradores não ficam de braços cruzados esperando Tad fazer as suas revelações e ameaçar os seus planos: em uma bem orquestrada queima de arquivo eles reagem de forma brutal atacando em todas as frentes. O programa de O'Malley é tirado do ar, seu site é destruído e o hangar onde o ARV estava escondido é bombardeado por comandos. A nave é destruída e os cientistas são assassinados. Para piorar, Sveta que estava fugindo de carro, é encontrada pelos conspiradores e seu veículo explodido por uma nave semelhante ao próprio ARV. Queima de arquivo total!


Enquanto acopanha os acontecimentos, Scully finalmente procura Mulder e conta que decidiu fazer um exame mais profundo em uma amostra de sangue coletado de Sveta. Ela faz um mapeamento completo no genoma da garota e constata que de fato há algo bizarro nela - algo por definição não-humano! Mais do que simplesmente constatar que o DNA de Sveta foi de alguma forma alterado, Scully faz os mesmos testes em seu sangue e o resultado é similar. Com isso, Scully acaba concordando que é hora de colocar um fim nessa conspiração de uma vez por todas: "Alguém tem que parar esses malditos filhos da mãe!"

Com isso, a dupla acaba finalmente respondendo aos apelos do Diretor Skinner que vinha procurando os dois com o objetivo de reabrir os Arquivos X, ainda que os arquivos em si tenham desaparecido - na sala de Mulder no porão do prédio do FBI tudo que restou foi seu emblemático poster "I Want to Believe". Essa parte me pareceu um bocado forçada: não acho possível que ex-agentes possam ter reativado seu status de investigador federal dessa forma, quanto mais depois das circunstâncias em que os dois se desligaram do Bureau, mas enfim... também não fica muito claro porque Skinner estava tão desesperado em reformar o Arquivo X e por que apenas Mulder e Scully podiam fazer esse trabalho. Tudo bem, eles eram os agentes veteranos, mas será que não há mais ninguém no Bureau interessado nessa área? Será que é tão difícil formar uma força tarefa especializada em casos extraordinários? Seja como for, Skinner parece ter sido alçado a um posto mais importante nessa décima temporada e deve ter um papel mais importante já que ele está inclusive na entrada.

E antes da conclusão, o primeiro episódio ainda lança mão de uma cartada final para fazer os fãs da série original dizerem "WHAT?!?" em uníssono. A notícia de que o Arquivo X foi reaberto tendo Fox Mulder e Dana Scully chega aos conspiradores e eles ponderam sobre as implicações disso. Ninguém menos que o maligno Canceroso - fumando por um buraco na garganta, afirma que algo precisa ser feito a esse respeito. SIM, o Canceroso está vivo, contrariando seu fatídico nome e o fato de ter sido atingido por um foguete de napalm no final da nona temporada. Será que algo que aconteceu no episódio ironicamente intitulado "A Verdade" (The Truth), realmente é verdade? Com certeza ainda sentiremos o cheiro de nicotina nessa temporada...

Mas qual o veredito? O que representou esse episódio para a série como um todo e o que podemos esperar nos próximos cinco que compõem essa temporada?


Eu realmente penso que cinco capítulos vai ser pouco para desenvolver à contento todos os elementos aludidos nesse primeiro episódio. Uma Conspiração desse tamanho (com "C" maiúsculo) teria material para uma temporada inteira de 20 e tantos episódios, mas qualquer desdobramento vai depender dos resultados de espectadores. O primeiro episódio, que foi ao ar domingo na tv americana bateu recordes de audiência, mas ainda é cedo para dizer se ele vai se sustentar. Tudo indica que sim, pois há interesse, mas as próximas semanas serão fundamentais para  definir o futuro de Arquivo X.

De acordo com Chris Carter, "My Struggle" e apenas a primeira parte de um episódio duplo, que terá sua conclusão no sexto e último capítulo da temporada, que tem o mesmo título. Ele adiantou em entrevistas que a segunda parte irá focar em Dana Scully, e na luta dela por seguir com o legado do Arquivo X. Entre o primeiro e sexto episódio teremos quatro semanas com episódios mais convencionais, inclusive "monstros da semana" para quebrar a tensão da mitologia central.

[UPDATE: O segundo episódio foi ao ar no emso dia aqui no Brasil e é claro vai receber um Recap aqui no Mundo Tentacular].

Nesse primeiro momento,a nova temporada tentou definir seu curso para vôos mais altos. Ela buscou ser fiel ao espírito original, o que implica em não introduzir mudanças significativas que ao meu ver seriam bem vindas.  Ainda assim, apesar de seu conservadorismo na maioria dos aspectos de estrutura, trouxe novidades para a mitologia.

É meio que uma bagunça, mas uma bagunça limpa que no final das contas faz algum sentido. E é claro, tem ainda o fator nostalgia no ar. No que diz respeito aos fãs, não era preciso fazer muito além de colocar Mulder e Scully juntos novamente e tocar o tema de entrada para produzir um arrepio de excitação.

Bem vindos de volta... sentimos saudades.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

TOP 10 - Os Melhores Episódios de Arquivo X - (Parte 2 - de 5 a 1)


Dando continuidade a nossa Lista dos Dez Melhores Episódios Stand Alone de Arquivo X, aqui estão os cinco que ocupam as primeiras posições.

5) Beyond the Sea
Temporada 1, Episódio 13


Beyond the Sea (Além do Mar, o título d euma música dos anos 50) é um episódio atípico dentro da dinâmica estabelecida entre os protagonistas no que diz respeito a crença e ceticismo.

Ao longo das nove temporadas de Arquivo X, acompanhamos Mulder em seu papel de crente que deseja acreditar e Scully como sua ferrenha opositora das suas teorias, sempre pronta a encontrar uma explicação razoável para os mais estranhos incidentes. Entretanto, Beyond the Sea oferece uma reviravolta completa. Aqui Mulder escolhe não acreditar e Scully está disposta a reconhecer que certas coisas simplesmente não tem explicação.

Quando o pai de Scully morre inesperadamente, ela se vê atraída pelas promessas de um assassino em série no corredor da morte que alega ter ganho poderes psíquicos. Este condenado, um matador sádico chamado Luther Lee Boggs, atrai a agente do FBI com a promessa de que pode colocá-la em contato com o espírito de seu pai. Ao mesmo tempo, ele oferece a Mulder a chance de encontrar uma de suas vítimas cujo corpo jamais foi enconrado. Os agentes se dividem a respeito das alegadas habilidades de Boggs: ele possui ou não faculdades sobrenaturais? Mulder tem certeza que ele é uma fraude, Scully não está muito certa, sobretudo por que Boggs parece saber detalhes muito pessoais da relação dela com o pai.

Esse é um episódio centrado em Scully, no qual sua família é apresentada e no qual conhecemos um pouco mais de sua intimidade, de suas escolhas pessoais e suas motivações. É um episódio importante para o desenvolvimento da personagem e que deixa claro que Arquivo X não é apenas sobre conspirações extraterrestres e monstros da semana, mas a respeito dos indivíduos que escolheram combater essas coisas e pagar um preço muito alto pela sua opção.

Beyond the Sea oferece ainda algumas boas reviravoltas, tendo como inspiração direta o filme "O Silêncio dos Inocentes". O roteiro de Glen Morgan e James Wong (dois craques que trabalharam em alguns dos melhores episódios de Arquivo X) segue a premissa de que um condenado no corredor da morte oferece informações a uma agente do FBI, sem ela saber ao certo se pode ou não confiar em suas palavras. Boggs quer ganhar tempo e se livrar da execução, mas até que pojto Scully está disposta a ir? 

No papel de Luther Boggs, o excelente ator Brad Douriff (um baita ator, conhecido pela maioria como o Conselheiro Grima do filme Senhor dos Anéis) dá um verdadeiro show, alternando momentos de fúria e sensibilidade, medo e raiva em uma atuação arrepiante. A descrição dele de como foi a experiência de caminhar pelo corredor da morte à caminho da sala de execução, tendo a companhia dos fantasmas de suas vítimas é no mínimo sinistra.   

Alguns pequenos momentos tornam esse episódio memorável, incluíndo quando Mulder chama Scully de "Dana" pela primeira vez e quando sabemos que a família da agente não apoiou sua opção de trabalhar para o FBI.

4) Paper Hearts
Temporada 4, Episódio 10


Outro episódio centrado na vida dos agentes e não em suas investigações ou nas suas carreiras profissionais. Dessa vez, é a vida de Mulder, seus traumas e incertezas, que são devassados e virados do avesso.

"Paper Hearts" (Corações de Papel) põe de lado objetos voadores não identificados, alienígenas e a mitologia central, lançando os holofotes sobre Mulder, sobretudo no que diz respeito ao incidente que mudou o curso de sua vida e moldou sua personalidade: o desaparecimento de Samantha, sua irmã mais nova.

O episódio lança sementes de dúvida nas convicções de Mulder que sempre acreditou na abdução de Samantha por alienígenas enquanto ela estava sob sua guarda. Não há quase nada de sobrenatural aqui, sendo que o único elemento que se encaixaria em um caso de Arquivo X é a presença de um suposto fantasma que conduz Mulder até uma cena de crime. Duchovny acrescenta uma boa camada de dor e ressentimento à sua atuação, à medida que expõe a culpa do personagem pelo que aconteceu à irmã. Muitos críticos concordam que foi graças a essa atuação que o ator ganhou o prêmio Globo de Ouro.

Paper Hearts apresenta um vilão especialmente detestável. John Lee Roche (interpretado por Tom Noonan) é um assassino cruel e doentio que procura crianças e sem dúvida está na lista dos mais perturbadores de toda série. O maníaco coleciona pequenos corações de tecido recortados das roupas de suas vítimas. Numa das cenas mais bizarras do episódio, ele examina cuidadosamente cada coração, sendo capaz de descrever para Mulder os detalhes e circunstâncias de como ele matou aquela vítima. O jogo mental que ele estabelece com Mulder, que suspeita do envolviemnto de Roche na morte de Samantha, é assustador. O fato de Roche não ter qualquer poder paranormal e ser um sujeito absolutamente comum, o torna ainda mais perturbador. Ele é maligno no pior sentido da palavra, o próprio mal encarnado.

Talvez Paper Hearts não seja especialmente significativo para a mitologia de Arquivo X, mas sem dúvida ele é um divisor de águas para o aprofundamento de Mulder e para entender sua determinação em encontrar a verdade. Eu reconheço que ele não está em muitas listas de favoritos, mas não podia ficar de fora da minha...
3) Irresistible
Temporada 2, Episódio 13


"Irresistível"! Esse talvez seja um dos roteiros mais bizarros de Arquivo X. Vou te dizer, recentemente assisti esse episódio com minha esposa e ela desistiu no meio, de tão tensa que ela ficou com o tema.

Não é para menos! A estória do maníaco fetichista e criminoso obsessivo Donnie Phaster é realmente perturbadora. Segundo consta, o roteiro do episódio, escrito por Chris Carter, foi recusado pela FOX que o considerou "inaceitável para os padrões da emissora". Eles se referiam a alusão de que Phaster era um assassino necrófilo que desenterrava suas vítimas para ter relações sexuais com os cadáveres em decomposição. Carter fez algumas concessões e reescreveu a estória diminuíndo um pouco o impacto. Ele considerou que não precisava mostrar claramente o que Donnie Phaster fazia, o público iria encaixar as peças por conta própria. E de fato, imaginar as compulsões mórbidas do sujeito contribui muito para a aura sinistra desse episódio.

Gillian Anderson também considera esse um dos capítulos mais assustadores de Arquivo X, e disse ter tido pesadelos depois de concluir as filmagens.

Irressitível é um "monstro da semana" centrado na perseguição a um assassino com desejo fetichista por cabelos e unhas de suas vítimas. Phaster coleciona troféus arrancados de mulheres e que são guardados em uma caixa no seu apartamento. A inspiração para compor a personalidade macabra desse monstro, é claro, veio do mundo real. O modus operandi do antagonista foi copiado do assassino em série Jeffrey Dahmer, que ganhou fama como o infame Canibal de Milwaukee. O resultado é quase um filme de horror de 45 minutos de duração, uma jornada através da personalidade perversa de um serial killer e da sua mente extremamente perturbada.

Embora Irresistível não contenha alusões óbvias ao sobrenatural, uma única cena torna o episódio um dos mais assustadores de todos os tempos. Quando a agente Scully é capturada pelo maníaco e preparada para o elaborado ritual de morte, ela vê seu algoz como um demônio. Esse trecho foi inspirado pelo relato do já referido Jeffrey Dahmer que em uma entrevista contou que quando se preparava para matar via a si mesmo como um demônio e que pouco antes de morrer, suas vítimas eram capazes de enxergá-lo dessa maneira. Verdade ou mentira, esse trecho sempre me dá um arrepio na espinha!

Se não bastasseo fato de ser um dos episódios mais marcantes das nove temporadas, Irresistible ainda tem um mérito: foi com base nele que a série irmã de Arquivo X, Millenium foi lançada. Quando os produtores da FOX perguntaram a Chris Carter, que tipo de série seria Millenium ele os convenceu a dar o sinal verde dizendo que ela seria semelhante a Irresistível. Realmente, boa parte do clima soturno e pessimista de Millenium, encontra eco nesse episódio em particular.

Para assistir numa noite escura de baixo do cobertor.

2) Home
Temporada 4, episódio 2


Ok, vamos falar desse episódio em particular.

Vou direto ao ponto: Home (Lar) começa com um parto mal sucedido em que um recém nascido é enterrado num terreno baldio (vivo ou morto não é possível saber) e termina com um homem deformado fazendo sexo com a própria mãe, igualmente deformada, no banco traseiro de um velho Cadilac.
Caramba! Que troço mais medonho! Mas não é só isso: Home é recheado de cenas dantescas que poderiam tranquilamente estar inseridas no clássico gore "O Massacre da Serra Elétrica". São tesouras ensanguentadas, cabeças de porco decepadas, nuvens de moscas... Diz a lenda que os executivos da FOX ficaram chocados com o teor mórbido do episódio e exigiram cortes e alterações no roteiro. Já a essa altura, Arquivo X havia conquistado enorme importância na grade de programação da FOX, sendo o programa mais assistido da emissora. Com isso, os roteiristas conseguiram bater o pé e brigar para manter a estória conforme foi escrita. No final das contas, Home foi ao ar, mas com um aviso no início que alertava para violência gráfica adequada apenas ao público maduro ("viewer discretion warning"). Apenas outro episódio de Arquivo X; "Via Negativa", na oitava temporada, teve o mesmo aviso.

Home é lembrado pelos fãs como um dos episódios mais perturbadores de toda série, possivelmente o mais aterrador. A FOX propositalmente liberou poucas reprises de Home, contudo quando fez uma pesquisa entre os fãs para uma Maratona com os episódios favoritos dos espectadores, ele recebeu mais votos que o segundo e terceiro colocados juntos.

Mas o que torna Home tão assustador? Para começar a estória acompanha a investigação da morte de um bebê nascido com horríveis deformidades. Tudo indica que os pais fazem parte de uma estranha família que vive à margem da sociedade, isolada de tudo e de todos há décadas. A estória dos Peacock, um clã de mutantes-degenerados-deformados com sede de sangue lembra muito "Quadrilha de Sádicos" e o já citado "Massacre da Serra Elétrica". Eles habitam uma fazenda no interior do estado de Pennsylvania, sendo evitados por todos na comunidade. Há rumores de união consanguínea e incesto há gerações. Ninguém sabe ao certo o que acontece atrás daquelas paredes e na verdade, poucos querem saber. Quando os agentes do FBI começam a fazer perguntas a ira dos reclusos recai sobre os moradores da cidade e pessoas começam a morrer de forma brutal. 

Mas é na parte final, quando Mulder e Scully invadem a mansão dos Peacock lidando com armadilhas e com os próprios maníacos que ficamos sabendo do maior segredo do clã. Essa é uma daquelas estórias que tem o efeito de um soco na boca do estômago e que deixa você embasbacado pensando a respeito da conclusão por um bom tempo. Quando iniciei minha Maratona de Arquivo X para escrever esse artigo, Home foi o primeiro que assisti e ele estava fresco na minha memória, embora fizesse muitos anos desde que havia visto pela última vez. Acreditem, eu lembrava perfeitamente de vários trechos...

Como diz a música que repetida insistentemente no toca fitas do carro dos irmãos Peacock: "Wonderful! Wonderful!" 

1) Squeeze/ Tooms
Temporada 1, Episódios 3 e 21

Eu sei, não é apenas um episódio que figuram em primeiro lugar na minha lista, mas dois. Contudo, é difícil dissociar esses dois episódios já que eles ficam melhor quando assistidos em sequência. Eu assisti dessa forma, e é bem mais interessante ver como se fosse um longa metragem.

Não são muitas as séries que podem se gabar de ter seu episódio definitivo nas primeiras temporadas, mas é difícil não colocar Squeeze e Tooms no topo da lista. Eles tem todos os elementos que tornaram Arquivo X uma série memorável: suspense, horror, mistério e um caso inexplicável envolvendo um vilão carismático. Tudo isso costurado com um roteiro muito bem amarrado e com atuações impecáveis dos protagonistas e coadjuvantes. Se Arquivo X se tornou um fenômeno de público e crítica, muito se deve a esses dois episódios, por definição os episódios definitivos de "Monstro da Semana".

Squeeze e Tooms serviram para mostrar que Arquivo X não seria "apenas" sobre mistérios da ufologia e conspirações governamentais, mas também a respeito de sustos e horror. E mesmo que tenham se passado mais de 20 anos desde que foram ao ar, esses dois episódios preservam a sua carga dramática e muitas surpresas. Se perguntar por aí entre os fãs, vai ser difícil surgir uma lista em que eles não estejam incluídos, provavelmente no topo. Mais do que isso, o vilão sem dúvida foi o responsável por tirar o sono de muita gente.

No primeiro episódio chamado "Squeeze" (Apertado, ou melhor ainda, Comprimido), um colega da Agente Scully a convida para investigar um assassinato inexplicável. Ela acaba levando consigo o "estranho" Mulder como conselheiro para inspecionar a cena do crime. Os dois se conhecem há pouco tempo e Mulder ainda não confia inteiramente na sua parceira, enquanto ela não sabe o que pensar dele. As teorias de Mulder parecem absurdas: o assassino teria entrado na casa da vítima através de uma grade de ventilação extremamente estreita. Apesar de suas teorias serem ridicularizadas, Mulder consegue capturar o criminoso, mas a ausência de provas (ou melhor a existência de provas impossíveis) faz com que o sujeito, um tal Victor Eugene Tooms seja liberado. Novos crimes se seguem e Mulder se torna obsessivo a respeito de provar que Tooms é o responsável pelos crimes.

Até aqui, parece um episódio como qualquer outro, mas Squeeze é muito bem construído. O vilão como não poderia deixar de ser, não é um simples assassino. Ele é uma espécie de mutante que entra nas casas com o objetivo de arrancar o fígado de suas vítimas e devorá-lo! Capaz de se contorcer por dutos e escorregar por qualquer passagem, não há lugar onde ele não seja capaz de entrar. Interpretado com maestria por Doug Hutchingson, Eugene Tooms tem a aparência de um ser humano, mas é uma criatura absolutamente monstruosa. Seu apetite por órgãos humanos faz com que ele mate sem compaixão, e depois de se alimentar, ele simplesmente constrói um ninho e hiberna por 30 anos. O título em português "Assassino Imortal" entrega um bocado da trama, mas ainda assim é um episódio quase perfeito.

Squeeze termina de forma perturbadora, com o mutante construíndo seu ninho, contudo, ele ainda não está pronto para dormir. Apesar dos protestos de Mulder, Tooms - um preso modelo, acaba sendo libertado da cadeia e não demora a reiniciar sua campanha de terror. "Tooms" tem como foco o personagem título, mas não se preocupa em momento algum em explicar de onde tal criatura surgiu ou como se tornou a aberração que é. Essa é outra marca registrada de Arquivo X, ele pede para os espectadores acreditarem em uma determinada situação e estes compram a ideia sem se questionar como é possível. Seria isso o indicativo de uma série com enorme credibilidade ou que atraiu exatamente um público disposto a "acreditar"?

Em Tooms, temos uma investigação policial muito bem conduzida, com Mulder recorrendo a um policial veterano que perseguiu o assassino 30 anos atrás e que não conseguiu capturá-lo. A medida que Mulder vai encaixando as peças do quebra-cabeças até compreender o que é a criatura, um confronto mortal se torna inevitável. 

Infelizmente, o personagem Eugene Tooms aparece em apenas dois episódios, ambos na primeira temporada. Dizem que Chris Carter tensionava trazer o vilão de volta, mas que o ator não quis reprisar o papel - em entrevista teria dito que o personagem foi tão marcante que depois disso, jamais conseguiu um papel decente, pois todos lembravam dele como o assassino de olhos amarelados de Arquivo X.

Muitos episódios da série ficaram marcados em nossa memória, mas Squeeze e Tooms tem um cantinho especial, lembrado de forma recorrente quando temos aquela impressão de estarmos sendo observados ou quando temos a impressão de que alguém está em nossa casa. Se você não viu, assista! Se assistiu, por que não ver de novo?

*         *         *

Bom é isso, pessoal!

Que tal? Vocês concordam com nossa lista de episódios Stand Alone de Arquivo X? Acharam que algum episódio em particular está faltando ou que houve alguma injustiça? Fiquem à vontade para comentar e mandar as suas próprias listas, sem dúvida gostaríamos de ouvir outras opiniões. 

sábado, 23 de janeiro de 2016

TOP 10 - Dez episódios de Arquivo X para ver antes da Volta da Série (parte 1 - do 10 ao 6)


Arquivo X está de volta!

E com ele investigações fantásticas no reino do sobrenatural, envolvendo todo o tipo de coisa estranha, bizarra e inexplicável. Para celebrar esse retorno em grande estilo, nós do Mundo Tentacular resolvemos fazer uma maratona da série afim de selecionar quais os nossos episódios favoritos e fazer uma lista daqueles que vale a pena assistir novamente, antes do início da nova e aguardada temporada.

Para chegar a essa lista adotamos alguns princípios:
Demos preferência aos episódios stand alone, ou seja, aqueles que se encerram dentro de um único programa e que contam uma estória fechada. Desse modo, os selecionados nessa lista não tem ligação com a mitologia central de Arquivo X, eles não se referem às complicadas conspirações alienígenas e complôs envolvendo extraterrestres e seus aliados na Terra. Ao invés disso, são os episódios que apresentam os chamados "Monstros do Semana", onde Mulder e Scully são enviados para investigar algum caso estranho que desafia a noção do convencinal e se deparam com algo incrível. Nesses episódios em especial, vemos os agentes encontrando casos curiosos, oponentes perigosos e situações que beiram o surreal. Não são apenas episódios marcantes, mas aqueles que depois de mais de uma década ainda continuam interessantes e que sem dúvida atrairiam novos fãs e continuam fazendo a alegria de quem os assistiu anos atrás.

Então, sem mais delongas, aqui está a nossa lista dos 10 melhores episódios stand alone de Arquivo X:

10) Drive
(Temporada 6, episódio 2)

Um dos maiores méritos de Arquivo X foi revelar talentos para outras séries de televisão. Drive talvez seja o melhor exemplo de como a série pavimentou o caminho para outras que vieram em seu rastro anos mais tarde. Vince Gilligan, um dos melhores roteiristas de Arquivo X, responsável por vários episódios memoráveis, foi o criador de outra série de enorme sucesso tanto de público quanto de crítica: Breaking Bad. Drive por sinal, parece uma reunião de indivíduos se preparando para fazer Breaking Bad. Além do diretor e da equipe de fotografia ser a mesma, o ator convidado é ninguém menos do que Bryan Cranston, o próprio Sr. White (aka Heisemberg).
Drive começa com uma perseguição em alta velocidade pelas estradas de Nevada culminando com a captura e apreensão do motorista. Uma equipe de filmagem da FOX registra o momento em que o motorista é dominado pelos guardas rodoviários (em cenas inspiradas na perseguição de O.J. Simpson). Segundos depois, algo inexplicável ocorre, a cabeça da mulher que ocupava o assento de passageiro simplesmente explode matando-a imediatamente. O acontecimento bizarro atrai a atenção de Mulder e Scully, casualmente investigando uma denúncia no estado vizinho de Idaho. Mulder fareja algo estranho e voa para lá, Scully tem suas dúvidas, e os dois acabam se separando. Mulder descobre que o motorista, um tal Patrick Crump, sofre de uma estranha condição debilitante que o obriga a se mover em uma determinada velocidade e direção. Se ele parar, suas dores de cabeça pioram e seu cérebro simplesmente explode. Para piorar, logo que Mulder chega a delegacia para entrevistar o sujeito, é rendido por ele sob a mira de uma arma e obrigado a dirigir em disparada.
"Drive" tem um ritmo alucinante, um tributo aos filmes de perseguição e corrida, quase uma homenagem a "Velocidade Máxima" - em certo momento Mulder até brinca "Se você parar de se mover, você morre? Acho que também vi esse filme"! A perseguição implacável pelo cenário do deserto californiano permite alguns excelentes momentos, mas é a interação entre Mulder e Crump que tornam esse episódio muito acima da média. A química entre Duchovny e Cranston rendem momentos de tensão e paranoia. No final das contas, Crump é uma vítima inocente de um experimento militar, a prova viva da existência das conspirações que Mulder passou a vida inteira tentando expor. Como salvar o sujeito e comprovar as teorias ao mesmo tempo? Como escapar com vida dessa situação limítrofe? A medida que o automóvel avança para o fim da linha, a corrida vai se tornando mais tensa, na direção de um desfecho trágico. 
Drive não é um episódio memorável por um monstro em particular ou pela presença de alienígenas. O principal vilão é uma força invisível criada pelo homem, pior ainda, pelo próprio governo que supostamente deveria proteger as pessoas. Um episódio diferente capaz de demonstrar que Arquivo X era mais do que extraterrestres e "monstros da semana".
9) Small Potatoes
Temporada 4, episódio 20

Tudo bem, eu reconheço, "Small Potatoes" é um episódio menor que talvez nem todos irão se lembrar imediatamente. Mesmo assim, ele é essencial para o crescimento dos personagens e a humanização deles, sobretudo Mulder. Talvez seja também um dos episódios mais divertidos, que subverte a imagem heróica dos agentes e os apresenta como pessoas normais, com vidas bem normais.
No roteiro, cinco bebês nascem em uma pequena cidadezinha com apêndices vestiginais semelhantes a caudas. Scully concorda que esse tipo de herança genética é transmitida hereditariamente e os agentes tentam descobrir quem estaria engravidando as vítimas. O médico de uma clínica de fertilidade é imediatamente apontado como responsável por ter manipulado os óvulos das mulheres, mas a explicação é ainda mais bizarra! Eddie Van Blunht um sujeito absolutamente ordinário, não chama a atenção e nem se destaca por nada, mas graças a uma peculiaridade genética é capaz de alterar sua aparência e copiar a visionomia de qualquer um com quem teve contato. Isso lhe permite enganar as pessoas, em especial mulheres que nem desconfiam que é ele, e não seus maridos que as visita à noite. Apesar do roteiro insinuar que Eddie é um detestável aproveitador de mulheres, o clima do episódio é bem mais suave do que se pode imaginar. Uma enorme façanha para uma premissa tão espinhosa.
Lá pelas tantas, Eddie acaba cruzando o caminho de Mulder que tem sua aparência devidamente copiada. O sujeito passa então a personificar o agente e viver a sua vida - literalmente calçando os seus sapatos. Enquanto tenta compreender como um agente do FBI é capaz de levar uma existência tão sem graça e esquisita, ele se concentra em flertar e seduzir a Agente Scully. O episódio brinca com as expectativas de muitos fãs da série na época, de ver Mulder e Scully envolvidos romanticamente e confirma a ótima química entre os protagonistas. Também deixa claro que os dois possuem um ótimo timming para a comédia.
Small Potatoes é daqueles episódios menores que funciona como uma espécie de cola, intercalando dois episódios tensos e aterrorizantes, com outro mais leve e agradável de assistir.
8) Bad Blood
Temporada 5, episódio 12

Bad Blood é a prova de que é possível explorar diferentes gêneros dentro de Arquivo X e contar estórias de suspense de forma divertida, leve e descompromissada, quase como uma comédia de erros.
O foco principal de "Bad Blood" é o vampirismo, um tema que foi pouco explorado durante as nove temporadas de Arquivo X. Mas os vampiros aqui são bem diferentes do que se poderia esperar e até o último momento, não se tem certeza do que de fato aconteceu e qual é a verdade dos fatos.
O episódio é contado a partir de dois pontos de vista, Mulder e Scully dão diferentes versões de uma mesma cadeia de eventos a medida que tentam decidir como irão explicar o caso para o Diretor Assistente Skinner. As duas versões são carregadas de preconceitos que acentuam as características mais marcantes dos personagens: Mulder na versão de Scully é um sujeito irritantemente crente em suas convicções, enquanto Scully na versão de Mulder parece uma mandona de cabeça dura. Os dois não concordam em praticamente nada, mas precisam costurar uma estória minimamente plausível para se livrar de uma grave acusação que pode destruir suas carreiras. 
"Bad Blood" prima pelo humor negro ao apresentar uma comunidade de "vampiros" no Texas que não desejam chamar a atenção e preferem viver discretamente, pagar seus impostos e levar suas vidas como pessoas normais... até que aparece alguém que viu filmes demais sobre sanguessugas! Ronnie Strickland, um entregador de pizza é o improvável assassino em série que por pouco não consegue cravar as suas presas (falsas) no pescoço do agente Mulder. Não se preocupe, nada disso constitui spoiler, já que está no trecho de abertura do episódio, quando Mulder por pouco não deixa escapar um belo palavrão. 
A estrutura do episódio, com a mesma estória sendo contada por duas testemunhas de formas diferentes foi inspirada pelo clássico filme de samurais Rashomon e é muito bem aproveitada. O ponto alto de Bad Blood é conferir as lembranças confusas dos dois agentes, resultando em situações hilariantes, sendo a mais divertida, a diferente interpretação da aparência do xerife da cidade - que Scully vê como um atraente e imponente homem da lei, enquanto Mulder descreve como um caipira dentuço e provinciano.    
Mesmo quem não é muito fã de Arquivo X concorda que esse é um episódio divertido de assistir e não por acaso um campeão de reprises lá fora. Uma dica: se você quer apresnetar Arquivo X para alguém que não está muito certo de asisstir a série, comece por esse episódio! 

7) Die Hand, Die Verletz
Temporada 2, episódio 14


Esse é um dos episódios mais controversos de Arquivo X. Curiosamente, ele gerou mais discussão aqui no Brasil do que nos Estados Unidos. Com o título "Os Adoradores das Trevas", ele foi trasnmitido uma única vez na televisão aberta, provavelmente por que alguém na grade de programação da Rede Record cochilou e não percebeu o teor demoníaco da coisa. Depois de ir ao ar, ele deu o que falar e por pouco os fiéis da Igreja Universal não conseguiram tirar Arquivo X da programação alegando que era um programa maligno. Eu lembro de ter assistido na ocasião, mas demorou um bom tempo até ver novamente, dessa vez na tv à cabo. 
"Die Hand, Die Verletz" (literalmente traduzido do alemão como "A Mão que Machuca") é um episódio curioso e incomum. Nele, Mulder e Scully são chamados para investigar um bizarro assassinato ritualístico de um aluno de um típico colégio americano, em uma típica cidadezinha americana - The Crowley High School (uma referência clara ao controverso ocultista Alesteir Crowley!). Logo os agentes percebem que algo estranho está acontecendo no lugar e que adolescentes parecem perturbados por alegados crimes envolvendo uma seita de satanistas.
Como acontece muitas vezes em Arquivo X, nem tudo é o que parece ser: os satanistas são os membros da Associação de Pais e Mestres, gente comum e acima de qualquer suspeita. O problema é que eles não parecem saber muito bem com o que se envolveram em seus rituais e agora temem ter invocado algo potencialmente perigoso. O episódio é bem claro em sua premissa: "Não mexa com aquilo que você não compreende" e demonstra as graves repercussões de se deixar envolver pelas promessas da magia negra, sacrifícios e feitiçaria.
"Die Hand, Die Verletz" faz também uma paródia às religiões organizadas, criticando sobretudo pessoas que se envolvem com uma determinada religião sem compreender sua proposta e sem entender minimamente sua filosofia. Os "satanistas" no episódio se mostram extremamente preocupados quando agentes do FBI chegam à cidade, nãopor que eles ameaçam suas crenças, mas por que se eles forem expostos suas imagens como bons cidadãos será arranhada para sempre.
O grande diferencial desse episódio é a presença de um inimigo incrivelmente poderoso e literalmente diabólico - um demônio de olhos negros que assume a identidade de uma aparentemente inofensiva professora substituta. As motivações da "Srta. Padock" são incertas, ela parece interessada em punir os devotos, calar testemunhas e manipular os agentes como se fossem peões de um jogo pessoal. A medida que o episódio progride, fica claro que os agentes estão fazendo o trabalho sujo da criatura demoníaca, tanto que ela se despede dos agentes de forma bastante amistosa.
De um modo geral, esse episódio possui uns desdobramentos bastante sinistros, culminando com uma descrição arrepiante de como a seita suspostamente usava uma adolescente para gerar recém nascidos que serviriam como sacrifícios de sangue. Além disso, ela tem também um ritual que leva uma pessoa ao suicídio e uma anaconda devoradora que contribuem para o clima de bizarrice generalizado. Na minha opinião esse episódio envelheceu um pouco e perdeu boa parte de seu choque, em parte por que oaquilo que era chocante 15 anos atrás, hoje é bastante trivial... seja como for, ele tem seu lugar na lista dos dez mais.     
6) Clyde Bruckman Final Repose
Temporada 3, episódio 4


Mais um episódio que mistura suspense paranormal com doses bem generosas de comédia e humor negro. O resultado é sensacional. "O Descanso Final de Clyde Bruckman" figura no topo da lista de melhores episódios na opinião da maioria dos blogs e páginas devotadas a listar os melhores episódios de Arquivo X de todos os tempos. E eles não estão errados... esse episódio tem um dos melhores roteiros e direções de toda a série.

Não é por acaso que ele foi o episódio mais premiado de Arquivo X, com vários prêmios e indicações ao longo de 1995, ano em que ele foi exibido. O episódio deu ao veterano ator Peter Boyle um Emmy de melhor ator convidado em uma série de televisão e conferiu ao Diretor Darren Morgan um prêmio de Melhor Direção em Série. Isso além de prêmios específicos em Festivais de Ficção e Terror.

A premissa é bastante simples, um assassino em série vem matando supostos médiuns e adivinhos charlatães, ele arranca os olhos de suas vítimas como um desafio para "aqueles que dizem ter o dom de ver o futuro e não conseguem prever o próprio destino". Mulder e Scully são chamados para investigar o caso e descobrir as motivações do assassino que parece atender a algum tipo de compulsão. Os agentes cruzam o caminho de videntes falsos, inclusive um tal Yappi, um charlatão que auxilia a polícia a encontrar o matador. No curso da investigação, Mulder e Scully conhecem um amargo e cínico vendedor de seguros chamado Clyde Bruckman que possui poderes psiquicos verdadeiros. Ele é capaz de ver quando e como as pessoas vão morrer. Bruckman odeia o seu dom e deixa claro que sabe como ele próprio irá morrer o que lhe causa uma sensação de esmagadora melancolia. Mesmo assim, esse episódio consegue ser divertido e gerar inúmeras discussões entre os fãs, sobretudo se as previsões de Bruckman estariam corretas ou não.

Mas é o ator convidado, Peter Boyle, que rouba o show com uma atuação de primeira como um sujeito ao mesmo tempo ranzinza e adorável. Ele é o responsável pelas melhores gargalhadas e possivelmente a melhor piada de todas as temporadas quando prevê que Mulder irá morrer em decorrência de asfixia auto erótica. O final água com açúcar no qual Scully se despede de Bruckman também é muito citado pelos fãs, apontado como a melhor atuação de Gillian Anderson.

Para ver algo diferente, inteligente e engraçado, esse episódio é uma ótima pedida!

(continua com o TOP 5 do Mundo Tentacular)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

"A Verdade (ainda) está lá fora" - Arquivo X está de volta 14 anos depois


Eu sempre fui fã de carteirinha de Arquivo X.

Lembro de assistir  a série toda semana na Rede Record, nas noites de sexta feira, às 22 horas. Era um programa imperdível para quem era moleque, ainda mais, em uma época em que a TV aberta era tudo o que tínhamos como opção. As primeiras temporadas de Arquivo X foram um verdadeiro acontecimento! Depois de cada episódio, os fãs discutiam os pormenores e trocavam ideias. Isso quando não se juntavam para assistir juntos na casa de alguém. Gravar e ver de novo, e de novo e de novo em busca de detalhes escondidos. Devo ter algumas dessas fitas VHS ainda, guardadas no fundo de um armário. Me recordo com carinho dessa época.

A série marcou época. Entre setembro de 1993 e maio de 2002, a série da FOX estabeleceu um novo padrão de qualidade para a televisão mundial. Muitos a consideram precursora dos atuais shows com personagens bem estruturados, roteiros cinematográficos e constantes reviravoltas na trama. Não é à toa que Arquivo X se tornou um fenômeno mundial: assistido e cultuado em todo o mundo.

A arte conceitual de Arquivo X, sempre foi sensacional. 

As estranhas aventuras dos agentes do FBI, Fox Mulder e Dana Scully se tornaram um clássico quase da noite para o dia. Semana após semana, ao longo de nove temporadas, os dois eram enviados para investigar alguma ocorrência inexplicável no reino do paranormal. Distribuído em um total de 202 episódios, Mulder e Scully enfrentaram assombrações aterrorizantes, seitas satânicas, assassinos em série, aberrações mutantes, monstruosidades naturais e criadas pelo homem e principalmente conspiradores que tentavam esconder a verdade sobre a existência de vida alienígena e manter em sigilo os sinistros acordos firmados entre o governo e seres extraterrestres.

Concebido por Chris Carter, Arquivo X deu início a uma mitologia própria na qual as Conspirações comandadas por Agências Governamentais e os complexos complôs de acobertamento eram o carro chefe. Embora os agentes fizessem parte do Bureau Federal de Investigação, seu maior inimigo eram justamente membros do Alto Escalão do Governo, dispostos a esconder os fatos e manipular a opinião pública. Como enfrentar um inimigo tão poderoso? Como expor a verdade? Como confiar nos informantes? Arquivo X brincava com o clima de paranoia, com o desejo de desvendar mistérios e revelar fatos. Em uma época em que a informação se tornava gradualmente mais acessível através da internet, nós torcíamos para que as conspirações fossem reveladas e para que Mulder conseguisse provar suas teorias.   

Uma das primeiras fotografias promocionais da série em 1993

Mais do que roteiros bem amarrados e tramas empolgantes, Arquivo X se sobressaia pela forma que as estórias eram conduzidas. Embora a premissa fosse sempre a mesma: um acontecimento estranho atraía os agentes, eles investigavam e corriam riscos para resolver o caso e eliminar a ameaça - a maneira como a trama se desenrolava era sempre surpreendente, capaz de prender a atenção do início ao fim. Suspense e procedimento policial, investigação e mistério se intercalavam em cada episódio, sendo que ainda havia espaço para comédia, humor negro e situações surreais. 

Muito do sucesso de Arquivo X se devia aos personagens principais. Mulder e Scully eram tudo menos convencionais. Para começar, a dupla não concordava na maioria das coisas: Mulder mantinha a mente aberta, tentando provar seu ponto de vista e suas estranhas teorias disposto a acreditar em tudo. Scully era seu contraponto, cética e descrente do paranormal ela se mantinha ancorada na ciência e na razão, oferecendo uma explicação perfeitamente lógica para a maioria dos casos. Aos poucos foram aprendendo a trabalhar junto e lá pela metade da primeira temporada já davam sinal de ter aquela química que surge raramente, mas que quando aparece impulsiona um programa rumo ao sucesso. A dupla de protagonistas era interpretada por David Duchovny e Gillian Anderson e eles brilhavam intensamente. Não é exagero dizer que os dois pareciam ter nascido para esses papéis, não é à toa que ambos ganharam prêmios e o reconhecimento de público e crítica.

Com o tempo, a série começou a dar inegáveis sinais de desgaste, o que era perfeitamente esperado depois de tanto tempo no ar. As últimas temporadas tiveram altos e baixos, introduziram novos personagens e tramas paralelas que não empolgavam tanto, mas que, mesmo assim, eram bem acima da média. Elas foram o trampolim para dois filmes, games, estórias em quadrinhos, livros, séries derivadas e mais uma infinidade de produtos nas mais variadas mídias. Os últimos capítulos de Arquivo X, onde a verdade era revelada (ao menos em parte) foram ao ar em 2002. 

De lá para cá, a série deixou saudade...

Foto Oficial da Nova Temporada

Mas eis que, depois de um longo hiato de 14 anos, Arquivo X está de volta, com pompa e circunstância, renovada para uma curta temporada de seis episódios inéditos trazendo o elenco original e contando o que aconteceu nesse tempo. É uma notícia sensacional para todos os fãs que se sentiam órfãos das aventuras de Mulder e Scully e que sonhavam com esse retorno. A oportunidade de ver Mulder e Scully juntos uma vez mais compensa tudo.

A FOX vem tratando o revival de Arquivo X como um acontecimento e a estimativa é que nada menos do que 48 milhões de pessoas assistam o primeiro episódio, uma expectativa de recorde que será amplificada pela transmissão simultânea do episódio ao redor do mundo. Um dos planos da emissora é trazer a série de volta a grade regular de programação, mas para isso terá de convencer os astros a se comprometer com os personagens uma vez mais. Tanto Duchovny quanto Anderson disseram que estão animados e ansiosos para reprisar os papéis mais importantes de suas carreiras, mas ambos desconversam quando perguntados se continuarão para novas temporadas. Há o rumor de que haverá um spin-off com novos personagens no papel de agentes de campo e uma reformulação no Arquivo X, com Mulder e Scully atuando como Diretores Assistentes. Outros afirmam que essa será a desculpa para novos filmes e o início de uma rentável franchising para a FOX carente de um sucesso capaz de brigar com os blockbusters.    

Tudo vai depender, é claro, do resultado dessa temporada e como os fãs vão encarar a novidade.

Já no aquecimento para a nova temporada, que estréia dia 25 de Janeiro, eu tirei a poeira dos DVDs e assisti aos meus episódios favoritos de Arquivo X para ir entrando no clima. Foi com enorme alívio que constatei o fato de que Arquivo X envelheceu muito bem e que não ficou datado como eu temia. A série continua relevante e empolgante, a despeito de alguns episódios já terem completado mais de 20 anos.


"O tempo passa, o tempo voa". Os protagonistas de Arquivo X em 1993 e 2016

O que esperar da nova temporada?

Vamos descobrir juntos no próximo domingo meia noite quando ouvirmos o inconfundível tema musical de Mark Snow na abertura. Para celebrar o aguardado Revival de Arquivo X, o Mundo Tentacular preparou uma série de artigos no qual explora a mitologia original, falamos dos nossos episódios favoritos, de nossos monstros prediletos e dos personagens centrais, enquanto nos preparamos para a estréia que merecerá aqueles tradicionais Recaps (no estilo que fizemos com True Detective).

Então, fiquem conosco.... não confie em ninguém e lembrem-se: A verdade está lá fora!

Para ir se preparando aqui está o trailer da nova temporada: